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Política e Conflitos

Politica no palanque

A política, como ferramenta de promoção do bem comum tem falhado miseravelmente. O conceito maquiavélico adotado por políticos da atualidade causa muitos conflitos às pessoas comuns. Vamos discorrer sobre uma possível explicação para isso.

No meu blog, eu escrevo sobre autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, de forma bem amadora, eu confesso. Minha abordagem e técnica estão longe dos escritos profissionais; não tenho a habilidade para tanto. Meu desejo é apenas expressar os sentimentos que tenho, traduzidos em um pouco de informação e achismos. Escrever me faz bem. É minha forma de participar da disseminação desenfreada, porém útil, das ideias na era da informação livre. E dentre os muitos tipos de informação, o tema política está em voga.

Minha pretensão é discorrer sobre política, mas não de forma a defender preferências. Quero discorrer um pouco sobre o conceito de política, o que ela deveria significar para a vida das pessoas e, principalmente, sobre os conflitos que dela nascem. Tenho um olhar um tanto difuso sobre isso e o convívio social me revela que não estou sozinho em muito do que penso. Parece haver um consenso sobre alguns conceitos, visões e até alguns fatos, que se bem observados, é possível entender meu ponto de vista.

De início, é necessário deixar claro que o objetivo do artigo é evocar a política e os conflitos decorridos dela, em uma visão de causas e consequências sobre quem busca viver melhor, que busca compreender a si mesmo e desenvolver a si próprio. Pretendo demonstrar como a política, originalmente concebida como um meio para o bem comum, foi transformada ao longo da história em um instrumento de poder. Essa transformação, como veremos, está na raiz de muitos dos conflitos que enfrentamos hoje.

Com isso, mostrarei a possível ligação entre a política praticada no Brasil e os conflitos que ela traz para quem quer viver em paz e prosperidade e, de alguma forma, não consegue. Convido o leitor a se engajar nessa linha de raciocínio. Não veja como uma aula ou determinação de ideologia, trata-se apenas de observações na tentativa de justificação a dores que talvez sejam comuns entre um número cada vez maior de pessoas.

Necessário partir do ponto comum de conceituação básica: o que é ou deveria ser política. Precisamos recorrer à filosofia – como sempre. A palavra “política” tem sua origem no termo grego “politiké” que se refere a assuntos públicos ou, mais especificamente, à arte ou ciência de governar uma pólis (cidade-estado). Na Grécia Antiga, a política estava intrinsecamente ligada à organização e administração da vida coletiva, sendo considerada uma atividade nobre e essencial para o bem-estar da comunidade. Recorro a três autores filosóficos sobre o tema, pois foram deles os primeiros conceitos. Eles são Platão, Aristóteles e Maquiavel.

Platão aborda a política em suas obras, especialmente em “A República”, onde ele propõe a ideia de uma sociedade ideal governada por filósofos-reis. Para Platão, a política deveria ser guiada pela sabedoria e a justiça, e não pelos desejos individuais ou interesses egoístas. Com Aristóteles, aluno de Platão, temos um dos conceitos mais clássicos de política, em que ele define o ser humano como um “animal político” (zoon politikon). Para ele, a política era a forma pela qual as pessoas organizavam a vida em sociedade, visando o bem comum. Aristóteles via a política como uma extensão natural da vida em comunidade, onde o objetivo era alcançar a eudaimonia (felicidade ou bem-estar) através de uma vida virtuosa. Consideremos o último autor do nosso caso. Maquiavel ofereceu uma visão mais pragmática e realista da política em O Príncipe. Ele se afastou do idealismo grego e focou no poder e na sobrevivência do Estado, introduzindo a ideia de que a política é, em essência, a arte de conquistar e manter o poder.

Para que fique mais fácil o entendimento irei organizar de forma sequencial o significado de política dentro do pensamento de cada um dos filósofos. Primeiro, admite-se que numa sociedade organizada há de se ter um governo em que o ideal é que tal sociedade seja governada, porém tal governo deve ser exercido por pessoas pensantes, amantes da sabedoria e justiça, sendo uma e outra indissociáveis entre si. Depois, temos a indicação certa que a sabedoria e justiça são os atributos de um governo imbuído da missão de trazer a felicidade e o bem-estar através das virtudes. Os dois primeiros autores apresentam a prática política como ferramenta nobre, exigindo das pessoas a sabedoria para operar tão nobre atividade. O terceiro autor, Maquiavel, já destoa do conceito nobre e oferece a política como ferramenta de conquista de poder e a manutenção dele pelo Estado.

É irônico escrever sobre isso agora, pois em outros textos, sempre levantei a questão do quão importante é para as pessoas estudarem sobre filosofia e história. Digo isso, pois o leitor concorda comigo que, só pela apresentação dos conceitos, já é possível enxergar os conflitos que hoje vivemos. Parece ser o caso de que os políticos atuais têm seu autor predileto. Concordam? Pois bem, vamos continuar, mas acho oportuno destacar as palavras e termos usados no texto até agora, eles têm um peso enorme quando focamos nosso pensamento neles. Vamos instituir a linha de raciocínio:

1 – Vivemos em sociedade e ela deve ser ideal;

2 – Para ser ideal deve ser dotada de bem-estar e ser governada por alguém sábio e justo para frear interesses egoístas;

3 – Os cidadãos não iriam se opor, pois o homem é um ser político, a forma de governo seria algo natural e eles conseguiriam aprender e praticar suas virtudes;

4 – De alguma forma, os governantes deveriam se manter no poder, após perceberem que a política é a arte da conquista.

Estabelecida a linha de raciocínio, identificamos que algo não deu muito certo na linha da história da política. Nota-se que houve uma quebra de pensamento ao decorrer do tempo. Temos que a sociedade grega e seus filósofos foram vencidos em algum momento, mesmo com um legado gigantesco. Após o momento de ruptura, a sociedade, ou seus governantes, provaram do poder e subjugaram a sabedoria e a justiça. O bem-estar e as coisas virtuosas foram relegados à manutenção do poder. Sem nenhum outro objetivo senão o poder. A sequência de raciocínio colocada nos itens de 1 a 4 mostra que, ao longo do tempo, a prática política se distanciou dos ideais nobres. A conquista e manutenção do poder passaram a ocupar o centro das atenções, como sugerido por Maquiavel. Com isso, os valores de sabedoria e justiça se tornaram secundários.

Verdade seja dita. Dos tempos de Platão e Maquiavel muita coisa mudou. As sociedades se transformaram absurdamente. O contexto político de cidades-estados ou de estado-nação já não existe mais como antes. A política moderna é agora global, envolve múltiplos atores, níveis de governança e, principalmente, sociedades com culturas diversas. O contexto agora gira em torno de participação democrática, representação, direitos civis e participação popular no poder. Esta última gera tantos conflitos que merece um artigo à parte.

Então, com essa evolução (ou involução), como se pode conceber a ideia de que a política gera tantos conflitos? Temos democracia, participação popular no poder e decisões, eleições e direitos tantos, então de onde se originam os conflitos? Bem, na minha visão, os conflitos surgem exatamente quando houve a ruptura conceitual e prático da política entre moral/virtuoso para amoral/poderoso. A visão de poder de Maquiavel explicitamente se tornou a praticada, e com pensadores dos últimos dois séculos tivemos definições de Estado, cada vez mais forte, poderoso e único capaz de saciar as necessidades da população. Ideia maravilhosa na teoria, no entanto, as pessoas se apegaram absurdamente aos “direitos” prometidos pelo tão poderoso e benevolente Estado que passaram a enxergar esse poder prometedor de dádivas como a real origem de suas frustrações pessoais. Se um cidadão está frustrado, com efeito, sua sociedade estará também, de diversas formas possíveis.

A política praticada no Brasil já apresenta definição consensual por parte da população: “política é o ato de fazer negociatas para que o político e seu partido se mantenham no poder com todos os privilégios bancados com dinheiro de impostos”. Maquiavélico, não é mesmo? O termo negociata aqui não está empregado no sentido de diálogo democrático, com o objetivo de se chegar em um consenso bom para a sociedade. É empregada diretamente ao significado de realizar acordos entre grupos de poder para que eles ganhem sempre. É só realizar uma enquete nas ruas, entre cidadãos comuns, e a resposta evidenciará isso facilmente.

A política no Brasil é a ferramenta pela qual o Estado e seus atores políticos operam e mantêm seu poder, influência, privilégios dignos de realeza e, na maioria dos casos, suas fortunas. É através dessa ferramenta que se define quase tudo de ruim para o cidadão. Vejamos uma boa lista de exemplos de conflitos gerados pela política:

  • Polarização Política e Divisões Ideológicas;
  • Conflitos Econômicos e Desigualdade Social;
  • Disputas por Direitos Humanos e Liberdades Individuais;
  • Conflitos Territoriais e Separatismo;
  • Crises Migratórias e Políticas de Imigração;
  • Conflitos Relacionados ao Meio Ambiente e Políticas Climáticas;
  • Conflitos sobre Governança e Corrupção;
  • Conflitos Internacionais e Intervenções Militares;
  • Reformas no Sistema de Saúde e Bem-Estar Social;
  • Censura e Controle de Informação.

Os itens da lista estão em pares justamente para mostrar que dada uma certa política, por mais bem intencionada que seja, gera sempre seu viés contrário – muitas vezes suplementares, como se fosse uma imagem invertida no espelho. Em quase todos os países do mundo existem conflitos nessas áreas. Em alguns, teremos um grau maior e, em outros, um grau menor dessas espécies de conflitos. No Brasil temos todos eles em alto grau.

É claro que alguém vai argumentar que muitas das políticas são benéficas para a sociedade, pois não estaríamos vivendo melhor que as sociedades antigas, que houve avanços e melhoria de vida. E eu até concordo. Porém o custo é muito alto. É alto porque a qualidade de vida gerada por uma política significa que a sociedade, sem dúvidas, abriu mão de muito do seu dinheiro, da sua liberdade e de seus direitos, para que tal qualidade se efetive. E nunca se dá de forma geral, pois é sempre um grupo menor de indivíduos que observam tal qualidade.

O cidadão comum perde enquanto o político ganha mais privilégios, pois ele cobrará votos para continuar no poder, em troca da boa ação que foi financiada pelo cidadão comum. Significa que o comum pagou muito e recebeu só um pouquinho, pois tem que dividir o direito com a sociedade ou a famigerada coletividade. O mandato do político é só dele e do partido dele.

A prática da política é tão amoral atualmente que, na minha visão, o cidadão, nas democracias modernas, têm apenas dois direitos inquestionáveis: votar e pagar imposto. O ato de votar serve para manter o sistema político e o pagamento de impostos serve para financiar os custos, sejam quais forem. Não há mais nenhum tipo de participação.

Com essa certeza, o cidadão comum sofre, e um dos piores conflitos que ele tem é consigo mesmo, pois ele se sente um inútil toda vez que ele percebe que, não importa o governo ou seu político, sua vida continua a mesma. Ele consegue perceber que, qualquer político, em quatro anos de mandato, fica rico sabe-se lá como. Isso se verifica através de qualquer declaração de renda de qualquer vereador de cidade pequena, por exemplo. O cidadão percebe que deve trabalhar cinco meses só para pagar impostos. Ele tem conflitos com sua família quando percebe que dificilmente consegue um tratamento de saúde pública enquanto assiste pela TV o político tendo acesso aos melhores hospitais, para si e para a família inteira, e para sempre. Tudo com dinheiro de impostos. Ele tem conflitos enormes quando percebe que a educação dos seus filhos estará praticamente condenada se depender do ensino público, enquanto assiste atônito, o político dizendo com orgulho que seus filhos foram estudar na europa.

Em última análise, e partindo para a conclusão, temos que os conflitos que se originam da política atingem todas as dimensões do ser humano. Afetam os fatores do cotidiano de forma intensa, pois coloca o cidadão sempre a analisar sua participação em tudo isso, e como tudo afeta sua qualidade de vida. E ele nunca se sentirá bem. A política, como praticada hoje, é tão amoral que consegue colocar a culpa no próprio cidadão. Se der certo, é mérito do político e ele se beneficiará cada vez mais. Se der errado, é culpa do cidadão que não sabe votar. Bem, essa última afirmação é uma condição gerada também por diversos outros fatores como educação e cultura, que no caso Brasil, é digno de um artigo à parte.

Em outros artigos sobre política vamos abordar mais nuances da política no Brasil e no mundo, sempre tentando identificar como ela pode afetar nosso autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. O fato é que não é possível não ter política. O que devemos fazer, pelo menos na minha pouca experiência, é buscar meios de entender melhor como se deu a ruptura da política. Entender como passamos de um conceito nobre e baseado em virtudes e vivemos a prática do poder pelo poder. Uma vez que vamos amadurecendo, acredito ser possível, em nível individual, nos conectarmos com os ideais de sabedoria e justiça. Devemos, então, reconhecer que a solução passa por transformar a política ao passo que desenvolvemos dentro de nós, cidadãos comuns, os significados e a prática constante da sabedoria e justiça como princípios.

A política causa diversos conflitos na vida dos indivíduos, não restam dúvidas. Desde os problemas da vida cotidiana até guerras mundiais que arrasam vidas e nações inteiras. Desde a formação da pessoa até a caracterização de uma cultura inteira. Desde a descaracterização de qualidades humanas até a manipulação total dos direitos inalienáveis e naturais do ser humano. Contudo, concluo com minha posição a respeito de política: definitivamente, a política atual e maquiavélica, nunca será uma ferramenta de prosperidade ao homem comum.

Por Rod (Veja Claramente)