Procuradora de Goiás, Brazil, reclama e se envergonha de seu salário pago com dinheiro público. Parece ser um caso de problemas emocionais causados por falta de empatia e talvez uma desconexão social.
O título desse artigo se trata de um provérbio popular que tem sido utilizado ao longo dos anos. É difícil atribuir a autoria dessa expressão, porém é frequentemente associada ao dramaturgo inglês William Shakespeare. No entanto, o uso dessa frase antecede Shakespeare e é encontrado em várias culturas e idiomas ao redor do mundo. Mas o que quero chamar sua atenção é para o fato de que nos deparamos com o seu significado o tempo todo. É uma loucura isso. Pois bem, vamos trazer isso para um lado emocional da coisa.
Recentemente publiquei um pequeno artigo que falava sobre algumas das características da dimensão emocional do ser humano. Falei um pouco sobre sentimentos, a empatia e a necessidade de regulação emocional que todos nós precisamos trabalhar isso.
O texto nos diz que os sentimentos são estados emocionais mais permanentes e complexos do que as emoções e que podem ser influenciadas por crenças, valores e experiências pessoais. Eles incluem a alegria, tristeza, frustração, gratidão e amor. Aconteceu que, nos últimos dias, eu pude experimentar, em poucos minutos, uma intensa distorção de todos esses sentimentos em mim mesmo, por um fato ocorrido, não muito corriqueiro infelizmente, mas que ainda assim, é capaz de gerar estranheza toda a vez que acontece.
Você talvez tenha acompanhado pelos jornais e noticiários o caso de uma Procuradora do Ministério Público de Goiás chamada Carla Fleury. O caso é público, retratado em diversas mídias, é só pesquisar e se inteirar. Numa sessão do Ministério ela reclamou do salário insuficiente de R$ 37 mil por mês (de dinheiro público, diga-se de passagem). Segundo ela esse dinheiro cobre apenas suas pequenas vaidades como brincos, pulseiras e sapatos. Também disse que agradecia o marido que é independente financeiramente e que, assim, ele sustenta a casa e os filhos. Para arrematar seu sofrimento ela exclamou seu sofrimento de criança, por ver o pai, também procurador, passar por dificuldades, pois usava o carro no ponto morto pra economizar combustível.
Eu não vou entrar no mérito de questão sofre a vida dela, como viveu, o que passa na rotina e, nem mesmo vou questionar o tal de merecer ou não merecer uma vida boa ou ruim. O que trago aqui é apenas uma reflexão sobre o fato de a sociedade ser formada por indivíduos. Se somos seres dotados das mesmas dimensões, por que então reações tão distintas? Será que são tão distintas mesmo? Sim, porque eu sofri por ouvir e ela sofreu por falar. Acho que os sofrimentos dela e meu, apesar de serem as mesmas expressões emocionais, incidem, existem e causam consequências muito diferentes devido a um fenômeno chamado de desconexão social.
É possível que uma pessoa com problemas emocionais, que o meu sofrimento me fez diagnosticar imediatamente ser o caso da Procuradora, possa se sentir desconectada da vida e dos problemas sociais, mesmo que sua saúde física esteja em um estado saudável, que ela seja rica e tal. A saúde emocional e a saúde física são aspectos distintos da nossa existência, e uma pessoa pode estar fisicamente saudável, mas enfrentar desafios emocionais que afetam sua capacidade de se envolver plenamente na vida social.
Pesquisando um pouco, é possível identificar que existem diversas razões pelas quais alguém pode se sentir desconectado emocionalmente e desligado dos problemas sociais, mesmo sem ter problemas de saúde física. Alguns fatores podem incluir:
Problemas de saúde mental: Questões como ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno bipolar ou outros distúrbios emocionais podem afetar a maneira como uma pessoa se sente consigo mesma e com os outros. Esses problemas podem causar isolamento social, sentimentos de inadequação ou até mesmo falta de interesse nas atividades diárias.
Traumas passados: Experiências traumáticas, como abuso, violência ou perda significativa, podem ter um impacto duradouro na saúde emocional de uma pessoa. Isso pode levar ao isolamento social como uma forma de autoproteção ou como resultado de dificuldades em confiar nos outros.
Baixa autoestima (não sei você, mas eu duvido que possa ser este o motivo do caso em tela): Uma baixa autoestima pode afetar a maneira como uma pessoa se percebe em relação aos outros. Sentimentos de inadequação ou falta de confiança em si mesmo podem levar ao isolamento social, pois a pessoa pode se sentir desconfortável em interagir com os outros ou acreditar que não tem nada a oferecer nas relações interpessoais.
Estresse excessivo: Altos níveis de estresse crônico podem ter um impacto significativo na saúde emocional de uma pessoa. O estresse constante pode levar à exaustão emocional e ao isolamento social como uma forma de lidar com a sobrecarga emocional.
Falta de habilidades sociais: Algumas pessoas podem ter dificuldades em desenvolver habilidades sociais adequadas para interagir com os outros. Isso pode resultar em isolamento social, pois a pessoa pode sentir ansiedade ou desconforto em situações sociais, dificultando o estabelecimento de relacionamentos significativos.
Você leitor, eu não sei, mas eu só consigo pensar efetivamente no primeiro e no último motivo como uma justificativa plausível para o fato da procuradora sofrer tanto. Não quero ou não consigo conceber que traumas passados, baixa autoestima e estresse pode ser a causa. É claro que se necessita de uma análise psicológica profunda, mas eu não sou um profissional da área e nem esse é o objetivo aqui. Só consigo, na minha posição de cidadão comum, pensar que a doutora está com a saúde mental fragilizada e que lhe faltam as habilidades sociais para compreender a um monte de coisas ao seu redor.
Não é incomum que pessoas das mais altas camadas da sociedade sejam identificadas com transtornos de bipolaridade e incapacidade de perceber como funciona a vida real da sociedade em que ela é um indivíduo determinante, inclusive, por ser uma autoridade capaz de decidir vidas e rumos de pessoas comuns pela atuação de seu trabalho cotidiano.
Por estar numa posição tão alta e viver constantemente numa bolha, pode ser que o “eu” dela não perceba quem ela é de verdade, que ela é um ser independente e que muitas das relações que ela tem são vistas por ela em um único sentido: de dentro dela e para ela somente. De outro lado, mas agindo diretamente na saúde mental dela, ela aponta a incapacidade de perceber a existência de pessoas pobres ao seu redor. Pessoas essas que não fazem ideia do que é ter filhos em escolas particulares, que muitas vezes nem filhos saudáveis têm, que possuem carros, que têm jornada de trabalho muito maior que a dela. E o pior, na minha visão, que essas pessoas retiram do seu sustento quase a metade para o custeio da estrutura em que ela está inserida.
Não quero parecer aqui um reclamão e sem nenhuma sensibilidade para entender os acontecimentos. Não a observo e julgo como um profissional, e sim como uma pessoa que está em busca também de conhecimento para entender tudo isso. No entanto, atesto ser ainda difícil, e sei que sempre será, observar esse tipo de cena que insiste em se repetir. Devemos saber e entender que todos nós sofremos e sentimos, mas que temos o dever de equilibrar nossos desígnios em busca de evolução, sob pena de sermos torturados por nós mesmos até não sobrar mais nada.
Por Rod (Veja Claramente)