Detox Redes Sociais: Como se desintoxicar e recuperar o controle da sua mente

Planejamento de detox de redes sociais com cronograma diário.

O paradoxo da conexão 

Em um mundo onde acordar é sinônimo de deslizar o dedo pela tela, o simples ato de desconectar parece uma afronta ao ritmo moderno. Acordamos com notificações, adormecemos ao som de vídeos curtos, e cada momento de pausa é imediatamente preenchido por uma rolagem infinita. Com isso, as redes sociais, criadas para aproximar, nos acorrentaram à necessidade constante de validação e estímulo. 

Mas o que essa constante exposição realmente nos custa? O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han nos alerta sobre a “sociedade do cansaço”, onde o excesso de estímulos gera exaustão emocional e mental. Em vez de estarmos mais informados, estamos mais dispersos; em vez de estarmos mais próximos, estamos mais ansiosos. Por isso, o “detox redes sociais” surge como uma proposta de resistência silenciosa a essa lógica da hiperconexão. 

Desconectar, nesse contexto, não é apenas se afastar do digital. É reconquistar o espaço da presença real, da escuta interna e da atenção profunda. É dar-se o direito de existir sem ser observado, sem notificar, sem performar. 

Pessoa praticando detox de redes sociais ao ar livre lendo um livro.
Se desconecte e aprecie um bom livro

O que é detox de redes sociais (e por que você precisa considerar isso agora) 

O termo detox redes sociais refere-se a um período de abstinência ou redução significativa no uso de plataformas digitais como Instagram, Facebook, TikTok, X (antigo Twitter) e outras. Assim como um detox alimentar busca limpar o corpo de toxinas acumuladas, o detox digital propõe uma limpeza da mente — saturada por estímulos, notificações e comparações constantes. 

Essa prática é diferente de um detox de internet, que envolve desconectar de toda a rede online, incluindo e-mails e navegação. No caso do detox redes sociais, o foco está nas plataformas que atuam diretamente sobre os circuitos emocionais de recompensa, dopamina e autoimagem. Trata-se de um descanso estratégico da vitrine pública que essas redes se tornaram. 

Filósofos como Zygmunt Bauman alertavam sobre o caráter líquido das relações modernas. Nas redes, nos conectamos com centenas de pessoas, mas mantemos vínculos frágeis, superficiais e efêmeros. O detox, nesse sentido, é também um reencontro com vínculos reais, profundos e significativos — inclusive com nós mesmos. 

O que acontece com o cérebro no uso excessivo das redes sociais 

O uso intenso de redes sociais ativa no cérebro os mesmos circuitos de recompensa envolvidos em vícios como jogo, açúcar e até drogas psicoativas. A dopamina, neurotransmissor do prazer, é liberada a cada curtida, comentário ou notificação. Esse estímulo constante reconfigura o cérebro, criando um padrão de dependência. 

Além disso, há o fenômeno conhecido como FOMO (Fear of Missing Out, ou medo de estar perdendo algo). O usuário sente necessidade compulsiva de acompanhar tudo em tempo real, gerando estresse e ansiedade. O cérebro, sob esse estado contínuo de vigilância, perde a capacidade de foco e reflexão profunda — habilidades fundamentais para o pensamento crítico e o autoconhecimento. 

Estudos da Universidade de Harvard indicam que o uso prolongado de redes sociais está associado à redução da massa cinzenta em áreas ligadas à regulação emocional e autocontrole. Em termos práticos, isso significa que quanto mais tempo passamos conectados, mais difícil se torna desconectar. 

Efeitos do uso excessivo de redes sociais no cérebro humano.
O cérebro pode sofrer com o excesso de redes sociais

Sintomas de abstinência das redes sociais 

Ao iniciar um detox redes sociais, é comum experimentar sintomas de abstinência psicológica. Constantemente, a mente, habituada a ser constantemente estimulada, reage com inquietação, ansiedade e até irritabilidade. É como silenciar um ruído constante ao qual já estávamos acostumados. 

Alguns relatam sensações de vazio ou tédio intenso, o que revela o quanto nossa dopamina estava atrelada a likes, comentários e conteúdo instantâneo. Essa fase inicial pode ser desconfortável, mas é passageira — e, sobretudo, reveladora. Ela nos mostra a dependência emocional que construímos em torno das redes. 

Outros sintomas incluem insônia leve, dificuldade de concentração e até compulsão por checar o celular sem motivo. São sinais de que o sistema de recompensa cerebral está se reorganizando. Persistir é o segredo para alcançar os benefícios reais da desintoxicação digital. 

Como fazer um detox redes sociais na prática 

Iniciar um detox redes sociais exige consciência e planejamento. Não se trata apenas de excluir aplicativos, mas de reprogramar rotinas e objetivos. Um primeiro passo é estabelecer um período inicial, como 3, 7 ou 30 dias, comunicando a decisão a pessoas próximas para evitar pressões sociais. 

Dicas práticas para um detox eficaz: 

  • Ative o modo avião em horários estratégicos (ex: ao acordar e antes de dormir); 
  • Use aplicativos de bloqueio, como Freedom ou Forest, para limitar o acesso; 
  • Crie zonas sem tela em casa (mesa de jantar, quarto, banheiro); 
  • Substitua o tempo ocioso por atividades analógicas: leitura, escrita, caminhadas. 

O filósofo estoico Epicteto já dizia que liberdade é poder dizer “não” a si mesmo. O detox é, nesse sentido, um exercício de domínio interno. É resgatar a autonomia sobre o próprio tempo, a própria atenção — hoje os recursos mais valiosos da vida moderna. 

Benefícios reais do detox redes sociais 

Após os primeiros dias de abstinência, os benefícios começam a aparecer. A mente fica mais leve, o sono se regula, e a atenção retorna. O foco melhora, e atividades simples como ler um livro ou conversar pessoalmente ganham nova profundidade. 

Outro ganho é o fortalecimento da autoestima. Ao sair da lógica de comparação constante — onde vidas perfeitas são exibidas em filtros e recortes — o indivíduo reencontra seu valor real, não baseado em métricas sociais, mas em experiências autênticas. O detox, nesse sentido, é também um gesto de amor próprio. 

Além disso, há um aumento na criatividade e na percepção do tempo. O filósofo Cal Newport chama isso de atenção profunda — a capacidade de mergulhar em tarefas complexas sem distrações. O detox redes sociais é a ponte para esse estado de presença plena, rara nos dias de hoje. 

Como se libertar do vício das redes sociais de forma duradoura 

A verdadeira liberdade digital não está em eliminar as redes sociais, mas em usá-las com intenção e equilíbrio. Após o detox, é essencial estabelecer limites sustentáveis: horários fixos, dias offline, e até pausas sazonais mais longas. 

Uma técnica útil é o “microjejum digital”: períodos curtos e frequentes sem exposição digital. Eles ajudam o cérebro a recuperar a autonomia entre os estímulos. Outra estratégia é praticar o journaling — escrever diariamente sobre as próprias emoções e objetivos sem mediadores digitais. 

Como dizia Kierkegaard, “a comparação é o fim da felicidade e o início do desespero”. Libertar-se do vício das redes é interromper esse ciclo destrutivo e reconectar-se ao que realmente importa: tempo de qualidade, presença e verdade emocional. 

Planejamento de detox de redes sociais com cronograma diário.
Organize seu tempo e priorize sua saúde mental

Reflexão final: O que há do outro lado do silêncio 

Fazer um detox redes sociais é mais do que um descanso: é um reencontro. Um reencontro com o tempo desacelerado, com o corpo presente, com o pensamento não fragmentado. Eventualmente, e necessário olhar para o espelho sem filtros, para a vida sem algoritmos. 

Neste silêncio digital, você ouve algo que havia sido silenciado: sua própria voz. E, curiosamente, ela nunca deixou de estar lá — apenas soterrada por memes, reels e comparações. Daí, percebe-se, então, que pausa revela o essencial. 

Significando Autoconhecimento e Desenvolvimento Pessoal

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Definindo Autoconhecimento e Desenvolvimento Pessoal 

No artigo anterior, intitulado “A Vontade e os Princípios”, falei sobre o primeiro grupo essencial onde coloquei a Vontade, os Valores e os Princípios. Afirmei que o indivíduo deve abstrair tais conceitos para si, personalizar e definir suas bases estruturais a partir deles. Essa é a atividade primeira para que ele possa iniciar sua jornada de vida de forma independente e correta. Tendo isso pronto, ele deverá seguir considerando os conceitos identificados no segundo grupo: o de Autoconhecimento e o Desenvolvimento Pessoal. 

Começo pelo Autoconhecimento com sua definição: conhecimento de si próprio, incluindo suas características, qualidades, imperfeições, sentimentos e tendências. Observe a definição e perceba a dificuldade. Vamos ser verdadeiros e deixar toda a hipocrisia de lado. É de uma dificuldade absurda olhar para si mesmo e definir uma lista honesta a respeito das próprias características. Mas é justamente isso que precisamos fazer e de forma urgente.  

Começando com a parte do “Auto”, significa que só o indivíduo pode definir sua lista de características. Pense nisso: o que você mesmo, sem ajuda de ninguém pode dizer sobre você mesmo? Não é como um amigo próximo, sua mãe, seu irmão, filho ou esposa construírem uma lista sobre você e suas características. Sem mentiras e hipocrisia, o que você sabe sobre você mesmo?  

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Definindo suas próprias características 

Liste agora suas características, suas qualidades, imperfeições e sentimentos. Tem coragem? Tem que ter. Esse é o seu dever para que possa levantar informações suficientes e saber se está de acordo com seus princípios e valores. É disso que estou falando. Será que o que você sabe sobre si mesmo é suficiente e coerente? Faz sentido com o que realmente vive, pensa e pratica no dia a dia?  

Para fazer esse exercício, junte tudo o que tem. Sua escolaridade, nível de instrução, sua bagagem de vida, suas habilidades de fato, todos os seus trabalhos, seus feitos, suas realizações, não aquilo que planejou e abandonou porque não conseguiu, mas aquilo que conseguiu fazer e que produziu efeitos reais. O que você aprendeu, o que sabe, conhece e pode confirmar como sendo conhecimento aprendido e enraizado. 

Isso tudo serve para uma coisa: autoconhecimento. Em toda a vida, o que você sabe? Quais os conhecimentos você tem que definem sua qualificação do mundo? Em que lugar você está em comparação com os demais, em comparação com a sociedade ou a humanidade? Essa informação te coloca em um lugar no mundo, consegue entender isso?  

Onde você está nisso tudo? 

É necessário e fundamental que o indivíduo saiba onde está em relação aos demais e à sociedade, sabe o porquê? Justamente para que se posicione com certeza e clareza, em qualquer meio, seja no seio familiar ou social. Conhecer a si mesmo define o valor da sua posição, das suas ideias e até da sua importância e influência no seu ciclo de vivência. O que afirmando é que, dependendo do que o indivíduo sabe, pensa e, principalmente, a forma como se comporta, está ligado diretamente ao que sabe, pensa e faz.  

Ao contrário do que possa parecer, isso não é depreciante, ofensivo ou diminuente, mas sim a verificação de uma verdade fática. O indivíduo precisa saber onde está, em relação a si, primeiramente, depois em relação com a família e com a sociedade. Não ter ciência disso é prejudicial de muitas formas, pois cada pessoa emite, o tempo todo suas opiniões e sentimentos. Também, através de seus comportamentos, influenciam os demais de várias formas, conscientemente ou não. É só imaginar que pessoas próximas o ouvem, se inspiram e até tomam suas palavras como ideologias.  

Perceba a força de impacto que é uma pessoa que não sabe nem o que é, o que pensa e o que sabe espalhando ideias, valores e condutas. Isso é comum pois isso é a vida. Imagine os comportamentos de manada que evidenciamos atualmente. Ou seja, aquele que não sabe o que é; e não sabe o que fala, quando espalha aos quatro ventos suas filosofias, o estrago é grande. Percebe a responsabilidade? Pois é, a maioria esmagadora ignora. 

O Desenvolvimento Pessoal 

Uma vez que já temos agora a ciência da importância do autoconhecimento, é hora de falarmos sobre o passo à frente: o Desenvolvimento Pessoal. Começo pela definição: Conjunto de técnicas e conhecimentos que visa melhorar a qualidade de vida e desenvolver as habilidades pessoais de cada pessoa, contribuindo com a construção do conhecimento humano e a realização de sonhos e aspirações”. 

Considerando o que falei no artigo anterior e o que apresentei até aqui sobre autoconhecimento, na sequência do raciocínio lógico temos que: O indivíduo tem ciência que é um ser existente e consciente, tem princípios e valores definidos e se conhece bem ao ponto de se posicionar em relação a si próprio e à sociedade. Para sua caminhada de uma vida boa só é necessário agora: 

  • Um conjunto de técnicas; 
  • Conhecimentos; 
  • Habilidades pessoais; 
  • Construir; 
  • Realizar. 

São muitos os conceitos de desenvolvimento pessoal, mas este é simples e reúne bem os requisitos, pois as outras definições dirão quase que a mesma coisa, porém com palavras distintas. 

Agora é hora de o indivíduo buscar no mundo aquilo que ele ainda não tem. Para qualquer caminho que ele decida ir, precisará dessa lista de coisas. É adquirindo tal lista de características ou propriedades, de forma cíclica e cumulativa, que ele viverá e existirá. A quantidade e a qualidade do conhecimento adquirido, e a devida aplicação na prática, determinarão a revisão de seus princípios, de seus valores, de forma que isso o guiará nas suas conquistas e realizações. Evidentemente, toda essa carga de conhecimento e sua aplicação na vida, contribuirá para o mundo assim como diz a definição. Desenvolvendo bem a si próprio, toda a sociedade se beneficiará. É assim que é. 

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A necessidade de esforço e dedicação 

Mas não é tão simples assim. Desenvolvimento pessoal demanda estudo pesado, dedicação, esforço. É necessário gasto considerável de energia do indivíduo para conquistar o conhecimento; primeiro de si mesmo e, consequentemente, dos conhecimentos do mundo. Quanto melhor o indivíduo se conhece, fez o trabalho de casa de se conhecer, o caminho de estudos e aquisição de conhecimento será melhor, mais definido. Porém, isso só não extingue a dor, sofrimento e o trabalho do desenvolvimento, pois ele nunca termina. 

No mundo atual, da era da informação livre, gratuita e descentralizada pode até parecer que o indivíduo encontrará um caminho mais fácil para efetivar seu desenvolvimento, seja ele educacional, cultural e/ou tecnológico. Na verdade, o acesso à informação está sim mais fácil que em outras épocas, entretanto, os caminhos e possibilidades se multiplicaram, criando um excesso de opções a seguir. Sem contar no aumento da concorrência qualitativa nas profissões e áreas de realizações. 

Mesmo assim, o indivíduo pode, hoje, independentemente da sua escolha, acessar todo o conhecimento da humanidade. Desde o conhecimento filosófico, histórico, psicológico e tecnológico até os conhecimentos transcendentais milenares. Escolhendo seu caminho, ele poderá adquirir todo conhecimento que precisa para evoluir como pessoa, individualmente e socialmente. E com todo conhecimento adquirido, vai se renovando, reciclando e evoluindo cada vez mais. 

Assim é o desenvolvimento pessoal. De dentro para fora. Do indivíduo para a sociedade e vice-versa. A sociedade será tão boa quanto são bons seus indivíduos. A sociedade é formada por indivíduos e estes, formados por seus conhecimentos, princípios e valores. Boas pessoas formam boa sociedade, conquanto, boas sociedades fornecem bons ambientes para a contínua formação de boas pessoas. A relação é cíclica e contínua. 

Evolução ou estagnação 

Não é possível que uma pessoa passe pela vida sem algum nível de evolução pessoal. Mesmo que não busque instrução e saber, uma pessoa não morre, depois de uma vida adulta, sem que não houvesse aprendido nada. Pode haver estagnação, mas sempre após um ponto em que já houve certa evolução a partir do nascimento. Sendo o desenvolvimento pessoal inevitável em algum nível, então que aconteça da melhor forma possível que o indivíduo busque instrução e evolução através dos estudos, da observação, da ação e aplicação dos conhecimentos adquiridos. Só assim poderá construir e realizar, para si e, consequentemente, para os seus e para a sociedade. 

Com este artigo, eu concluo minhas observações a respeito daquilo que considero ser fundamental para que uma pessoa se reconheça, se defina e passe por esta vida de forma boa e produtiva. Isso passa por estudar, compreender e definir sua vida, baseados nos conceitos de Vontade, Princípios, Valores, Autoconhecimento e Desenvolvimento pessoal.  

A meu ver, esses conceitos funcionam como uma linha lógica, e que cada ser deve entender o que significam e, a partir daí, internalizar e estabelecer suas bases para que seja possível o enfrentamento da vida como um todo. Quanto mais tarde fizermos esse exercício de definição, mais difícil e confuso será o caminho. Mas existem ferramentas efetivas que podemos usar para nos ajudar. Ao estudar e buscar conhecimento, qualquer pessoa perceberá que tudo que precisamos já foi pensado, testado, julgado e amplamente registrado. A filosofia e psicologia são exemplos disso. E são essas ferramentas que vou abordar em artigos subsequentes. 

Acessem e leiam os demais artigos aqui do Blog e vamos caminhar juntos nos bons caminhos do desenvolvimento pessoal. Seja em textos ou em vídeos, sempre irei compartilhar e devolver, de alguma maneira, o que acho que possa a alguém ajudar. 

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A Vontade, os Princípios e os Valores

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A superficialidade do Autoconhecimento e Desenvolvimento Pessoal na atualidade 

Meu nome é Rodrigo, criador do blog, do canal no YouTube e das redes sociais do Veja Claramente. Meu objetivo é tratar de assuntos sobre autoconhecimento e desenvolvimento pessoal através de artigos e vídeos. Eu mesmo escrevo os artigos, faço a narração, produzo e edito os vídeos sobre eles. Na maioria dos artigos eu apenas narro os artigos e em outros eu faço apenas uma discussão aberta sobre os temas escritos. Esse artigo vai apresentar uma discussão importante, pois será o primeiro de vários em que vou discorrer sobre o tema e as aplicações reais no cotidiano. 

Autoconhecimento e desenvolvimento pessoal são temas perdidos atualmente, tratados sem importância quase nenhuma, de forma até pejorativa e com visão distorcida, apesar de amplamente divulgados. De primeira mão você pode discordar de mim, porque é um dos assuntos mais disseminados por aí, então como assim é um assunto perdido? Não tiro a razão desse argumento, mas eu vou afirmar novamente que são temas esquecidos e desconhecidos, vou insistir na minha visão, na verdade.  

A indústria que esvazia o sentido do Desenvolvimento Pessoal 

O que se tem, na verdade, é todo um ecossistema comercial ao redor dessas duas palavras, ou do que elas significam e, principalmente, do potencial comercial. Uma indústria gigantesca de produtos e serviços orbitam essas duas palavras tirando delas todo significado primordial. E é isso que pretendo demonstrar. O que se conhece mesmo são os produtos, os meios, os derivados, os tratamentos, os remédios, os profissionais etc. É como se elas representassem uma doença a ser curada ou uma síndrome a ser tratada em hospitais e clínicas psiquiátricas. E me desculpe com as opiniões contrárias, isso está errado. 

O ecossistema empregado para autoconhecimento

O ecossistema ao redor de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal se tornou tão enfadonho que ninguém tem mais paciência, saco ou disposição para refletir sobre o que significa. Se tornou um tema tão batido que, ao falar sobre isso, qualquer um já pensa imediatamente apenas em meditação, ioga, autoajuda, medicina alternativa e coisas assim. Observe bem e veja se isso indica ou não apenas uma indústria de produtos e serviços que deve ser imediatamente consumido.  

Não que isso seja de todo ruim, não é isso, pois esse tema vai esbarrar sim, em algum momento, em questões de saúde mental, física, emocional e espiritual, não tenho dúvidas disso. A questão é o foco no que essas palavras realmente significam na vida de ser humano; a essência fundamental que elas carregam. Os significados desses ternos são nobres, representam um norte, servem como guias para a definição de individualidade, rumo e direcionamento para as pessoas e para a humanidade, consequentemente. 

Vontade, Princípios e Valores: A base estrutural do ser humano 

Autoconhecimento e desenvolvimento pessoal estão intimamente ligados ao que chamo de Vontade e Princípios que todo ser humano deve tem em si, como elementos vitais e essenciais para a vida, e não só para o passar pela vida como se significassem uma modinha fitness que dá uma sensação que está tudo certo e limpinho, mas sim como a base inicial de uma vida minimamente considerada boa. Ou seja, vontade de ser, de existir; pré-condição de força de vida. Essa vontade se soma aos princípios também vitais, aos quais um ser humano precisa ter gravado em sua alma, em seu ser. 

Contexto usado para Princípio

No contexto que exponho aqui, os princípios são aquilo que tem que ser em seu significado natural: um conjunto de regras definidoras de caráter, de credo, de crenças, um estabelecimento mínimo de fortes referências significativas para o ser e que o conduzirá em um caminho em toda sua existência. Percebe-se facilmente que não se trata apenas de uma questão de autoajuda com práticas de alongamento e meditação no parque no domingo à tarde. É muito mais que isso. 

Para mim, e é o que tento passar com o meu trabalho no Veja Claramente, a visão, significado e compreensão é a seguinte: todo ser humano, a partir do momento na sua vida em que perceba ser necessário sua definição como ser independente e que, agora, os rumos da sua existência estão em suas mãos, é primordial que ele tenha claro na sua mente essa seguinte relação: 

VONTADE -> PRINCÍPIOS -> VALORES -> AUTOCONHECIMENTO -> DESENVOLVIMENTO PESSOAL 

Não é o caso de analisar, apenas de forma hierárquica, o valor desses conceitos ou a importância de um sobre o outro. O que quero expressar é a ligação fundamental, de forma estrutural, entre eles e a necessidade de entender a sequência lógica, a presença e a aplicabilidade dessa estrutura, para uma vida boa ou considerada boa para que um ser humano esteja realmente pronto para seguir em frente. 

Organizando os conceitos em grupos 

Para fazer essa ligação lógica, vou separar em dois grupos: de um lado, consideremos a Vontade, os Princípios e os Valores num grupo de elementos e significados que penso ser primordiais, primários, como se eles formassem juntos a base estrutural do ser. De outro lado, o grupo formado pelos significados e importância dos elementos Autoconhecimento e Desenvolvimento Pessoal. Nesse segundo grupo, encontram-se as ideias e conceitos que fazem parte das escolhas do indivíduo.  

Sim, pois ele pode escolher não se importar com nada isso, nem com conhecimento e muito menos desenvolvimento. Ele, o indivíduo, pode simplesmente ignorar essas coisas em suas reflexões e na construção do seu ser. No primeiro grupo, ele certamente não poderá ignorar muita coisa, pois querendo ou não, são conceitos e significados alheios a sua mera escolha. Um artigo falando sobre isso em nível da psicologia pode tratar sobre. Vemos isso depois. Neste momento, vamos sintetizar o que significam os conceitos e seus papeis na constituição do ser e a importância de levá-los em consideração o quanto antes na vida. 

Grupo 1: Grupo fundamental

No grupo um, temos a Vontade, os Princípios e os Valores, como dito antes. Dentre os 3, a Vontade é uma força existencial ou uma condição natural do ser humano, onde o simples fato de estar vivo e respirando já é a manifestação da “Vontade” da criação, da natureza, de algo maior e anterior. Não é possível a negação dessa força uma vez que é fato que o ser vive, existe, está consciente e ciente da sua existência, pensa, é, está e ponto. Se ele ignora isso e vive remoendo esse fato, isso é alvo de outra discussão existencial anterior a entender o que significa princípios e valores, muito menos autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Em outra ocasião, podemos aprofundar mais, e para isso precisaremos de mais filosofia e psicologia. Então, vamos focar nos princípios e valores. 

Como os Valores avaliam a consistência dos Princípios 

Princípios e valores formam a base para que qualquer indivíduo saia de um ponto zero para qualquer outro lugar. A construção da sua personalidade está condicionada na estrutura dos seus princípios e valores. Seu comportamento consigo e com a sociedade vai depender dessa construção. E acredite, isso afetará tudo e todos ao seu redor. 

Os Princípios

Os princípios de um indivíduo devem ser seu alicerce e devem estar bem gravados em sua estrutura, por isso devem ser poucos. Se uma pessoa tem muitos princípios e eles são mutáveis, voláteis, não poderão ser classificados como princípios, certo? Não faz nem sentido ser assim. Eles devem ser a expressão do que há de melhor em um indivíduo, baseados em virtudes que o ser deve perseguir.  

Os princípios devem ser aquilo que não traz vergonha, mas orgulho; que não podem ser negociados a nenhum preço, sob pena de desonra e humilhação pessoal. E se em caso alguém considerar que uma pessoa pode não sentir a necessidade de ter princípios ou que entenda e aceite princípios ligados ao que é baixo, amoral, ruim ou mal, então estamos falando de um ser não normal, que precisa de ajuda urgente. 

Os Valores

São os elementos que darão ao indivíduo a capacidade de mensurar quão forte são os seus princípios. Os valores são como um conjunto de variáveis que o indivíduo internaliza, como ideias, sentimentos, pensamentos e até emoções. O conjunto de valores partem dos princípios e a importância dada a cada um deles e como a pessoa os relacionam, determinará se o conjunto de princípios desse mesmo indivíduo é quebrável, sustentável ou consistente, pois valores derivam dos princípios. É certo que valores podem mudar mais facilmente que princípios, pois muitas das variáveis que compõe os valores são emocionais, psicológicos e dependem de contextos culturais e pessoais, do conhecimento e experiências adquiridos durante as vivências e experiências do ser. 

A importância dos Princípios na construção da identidade 

Então, antes de passarmos para frente, temos que, primeiramente, o indivíduo deve se estabelecer e entender sua unidade no mundo, que está vivo, que existe por uma vontade maior, compreendendo isso ou não. Ademais, deve entender que, para seguir na vida ele deve estabelecer o que é, quem é, quais os princípios e valores que nortearão sua caminhada nessa vida. É então, neste momento, que eu indico que a pessoa deve parar, dar um passo atrás, alinhar seus pensamentos e gastar tempo na resolução e definição das suas bases fundamentais.  

Quais são meus princípios? Quais meus valores? Qual é a medida qualitativa ou quantitativa para cada um? O que está disposto a revisar, trocar de lugar ou de ordem ou importância? Quais deles está disposto a perder ou ganhar? Qual o preço? (Nesse momento o indivíduo começa a definir certa hierarquia de importância aos termos, uma vez que estão internalizados e personalizados). Essas são as perguntas a serem respondidas, registradas, gravadas nos alicerces pessoais. Nesse momento, o indivíduo deverá usar todo conhecimento e bagagem que tem, seja educacional, cultural, intelectual etc. Deverá usar tudo que tem e empenhar todo esforço necessário para definir as bases. Além de saber que deverá ficar atento sempre na medida e acompanhamento dessas bases, com o fim de verificar se está no rumo certo ou não. 

Preparando o caminho para o Autoconhecimento verdadeiro 

Vimos até aqui que o indivíduo deve reconhecer sua existência e individualidade no mundo, a partir de uma vontade maior e anterior. Depois, deve estabelecer seus princípios e valores. Após isso ele estará pronto para iniciar sua caminhada como um ser independente, trilhar seu caminho e fazer sua história. Só isso já é mais que suficiente para discussão de muitos fatores. Mas vou encerrar este artigo com essa introdução, antes de passar para a necessidade do autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, que será tema do próximo artigo, com o título de “Significando Autoconhecimento e Desenvolvimento Pessoal”. Clique para ler.

Para aprofundar mais ainda sobre o tema, você pode acessar mais conteúdo em artigos aqui mesmo no Blog Veja Claramente e fora dele. Clique nos links para acessar: 

Tecnologia e Informação. Benefícios, perturbações e sofrimentos

Computador ao lado de uma máquina de escrever

💻 Tecnologia e informação causam perturbações e sofrimentos diversos em muitas pessoas pelo mundo. Muitas são as causas, mas identifiquei quatro fatores que considero serem os mais influentes atualmente na causa dessas dores. Leia e confira os motivos e perceba se faz sentido ou não a ocorrência em sua própria vida. 📲

Como a tecnologia e informação podem causar perturbações? 

Parece que não, mas tecnologia é um tema que atualmente atormenta muitas vidas. Não só porque divide pessoas entre os grupos dos que amam dos que odeiam, mas pelo simples fato de ser inevitável. Não busco aqui concordância ou discussão a respeito, pois tecnologia e informação são inevitáveis. Estranho afirmar isso, eu sei, mas é a mais pura verdade. Mas deixa eu te afirmar novamente uma coisa: a tecnologia é exatamente isso mesmo atualmente. Ela se tornou inevitável com o tempo, sem volta, ninguém percebeu e agora ela já tem seu lugar e papel aí, do seu lado. 

Talvez a palavra inevitável, o leitor possa achar que foi exagerada, mas não foi não. É só pensar um porquinho e deixar coisas triviais virem à tona. Sua escova de dente é inevitável? Seu cartão de crédito também é? Seja honesto. Seu batom, seu laptop, seu carro, a mamadeira do seu bebê, o controle eletrônico do seu portão. Posso apelar por mais um pouco de tecnologia? Seu celular, sua rede social, seu emprego, sua insulina ou remédio para pressão… que tal? Precisamos discutir a palavra inevitável? Continue sendo franco, leitor… Seus entes amados, ou até mesmo Deus, recebem a mesma alcunha de inevitáveis em suas vidas? Bem… vamos continuar, estamos só no começo. 

Perceba que eu citei apenas tecnologias triviais relacionados a produtos do dia a dia. A importância dos benefícios da tecnologia pode ainda ser verificada a nível de revolução industrial, comunicação global, medicina, educação, etc. A tecnologia e a consequente distribuição de informação foram tão benéficas, trouxeram avanços indiscutíveis. Os ganhos na saúde geral, no conforto diário alcançado pelas pessoas em suas vidas cotidianas também considero são inegáveis. Ponto pacífico. 

Engraçado que os malefícios podem também ser facilmente verificados, da mesma forma que os benefícios. Os problemas são muitos. Apesar dos avanços, a tecnologia e a informação começaram a gerar perturbações significativas na sociedade contemporânea. O excesso de informações, conhecido como sobrecarga cognitiva, tem causado dificuldades de concentração e aumento da ansiedade. As redes sociais, embora conectem pessoas, também se tornaram palco para desinformação, polarização e perda de identidade coletiva. 

👉 Confira este artigo para saber mais: Relações Autênticas na Era Digital.

Como algo tão benéfico pode perturbar e prejudicar pessoas? Até porque formou-se um empate. Temos, então benefícios e malefícios concorrendo em grande escala. Há de se concluir que é só uma questão de equilíbrio? De uso pessoal ou apenas uma questão de sorte de quem será o beneficiado ou o injuriado da vez pela tecnologia? Não acho que é tão simples, pois me parece que as notícias e estudos a respeito dos efeitos negativos da tecnologia e da informação estão na vanguarda. Talvez seja marketing? Pode. Então vamos abordar possíveis causas das perturbações e verificar se é procedente ou não. 

Mulher chorando diante um computador
Mulher chorando diante um computador

Para isso, vou levantar 4 fatores de observação: 

  • O Excesso de Estímulos; 
  • O Efeito Bolha dos Algoritmos de IA; 
  • A Automação de Decisões; e 
  • Desemprego Tecnológico e a Crise de Propósito.

São muitos os fatores que poderia ter levantado, na verdade. No entanto, me pareceu pertinente discorrer sobre os efeitos destes na atualidade. Me parece que eles têm um poder objetivo muito evidente no modo em que estamos vivendo, tomando decisões e sofrendo certas consequências diretas da tecnologia. Vamos para cada um. 

O excesso de estímulos causados pela tecnologia 

Nunca antes tivemos tanto acesso à informação. Todo o tipo de informação, precisando ou não, temos informações úteis e inúteis também. Nos tempos sem tecnologia, as pessoas buscavam apenas a informação que precisavam para resolver seus problemas imediatos e pronto. Agora não. Desde fofocas, espaço, planetas, alienígenas, governo, matemática, física, clima. A tecnologia faz questão de disponibilizar a você tudo aquilo que você não queria saber e não precisava se preocupar na vida. Problemas que você não teria se não soubesse, agora tem porque soube. E, de repente, vai dormir, ou não, com um problema que não é seu. 

As redes sociais, com notícias 24 horas por dia e as atualizações constantes em tempo real criam um ambiente de sobrecarga informacional. Embora isso nos conecte ao mundo, também nos distrai e afasta de nós mesmos. O excesso de informações gera um estado constante de alerta e agitação mental que nunca experimentamos antes, e não aprendemos a lidar com isso. Não é algo natural para nossa mente. 

O acesso desenfreado à informação promoveu um “ruído” mental e fadiga cognitiva, em que nos tornamos incapazes de distinguir o que é realmente relevante ou não, e ainda damos toda a importância. Muitas vezes, estamos mais preocupados em absorver novas informações e opiniões do que em processar o que já sabemos e sentimos internamente. Isso afetou profundamente nossa capacidade de desenvolver uma identidade própria, autêntica, levando a uma confusão sobre quem realmente somos e do que realmente precisamos para viver. Isso é muito sério. 

O Efeito Bolha dos algoritmos e a personalização excessiva

Esse efeito é quase imperceptível e traz um dano muito grave, pois afeta a nossa perspectiva sobre a realidade das coisas, dos fatos. Cria uma realidade paralela e não tão saudável quando percebemos. De repente, a tecnologia faz com que você ache que sua realidade é a certa, a verdadeira, ignorando qualquer outro fator que contradiz o que você pensa ou vê. É uma armadilha, uma isca perfeita de sedução comercial perfeita, e os resultados quase sempre são catastróficos na vida das pessoas. 

Essa personalização excessiva, promovida pelos algoritmos que moldam o que vemos e consumimos online, pode ser perigosa. Ao limitar nossa exposição a novas ideias e manter-nos em bolhas de informações confortáveis, a IA reforça nossas crenças existentes e restringe nosso crescimento pessoal, pois protege você daquilo que incomoda, te desobrigando de raciocinar sobre pontos divergentes. 

Polarização radical de ideias, crenças, pensamentos e opiniões são o objetivo das bolhas dos algoritmos porque eles foram escritos para manter você em um nicho comercial e ideológico, ao ponto da pessoa se tornar um fiel cego, radical e consumidor das ideias e produtos da bolha, combatendo tudo e todos do contrário. Chamo isso de escravidão moderna trazida pela tecnologia. 

Quando somos constantemente alimentados com conteúdo que validam o que já pensamos, deixamos de nos questionar e evoluir. A exposição limitada reduz nossa capacidade de reflexão crítica e nos impede de desenvolver uma visão mais ampla e rica do mundo e de nós mesmos. 

Homem em sua bolha feliz
Homem em sua bolha feliz

A dependência e a perda de autonomia 

Outro ponto muito grave aqui. É certo que a tecnologia nos possibilitou facilidades operacionais excepcionais com a automação de processos, no trabalho, em casa e em muitas coisas do dia a dia, relacionadas a produtividade e ganhos de eficiência em muitas coisas. Mas não cito aqui processos mentais importantes de tomada de decisão, de coisas que só a mente humana deve se responsabilizar. 

Com o crescimento das tecnologias de IA, muitos de nossos processos de decisão têm sido automatizados. Decisões que humanos devem tomar, nós a concedemos à tecnologia. Aplicativos de IA que ajudam a organizar nossas finanças, planejar dietas ou até mesmo melhorar nossos relacionamentos estão ganhando popularidade. No entanto, ao delegar decisões tão importantes às máquinas, enfraquecemos nossa própria capacidade de julgamento e tomada de decisões conscientes. Até pra escolher o que comer e vestir, delegamos a decisão. 

Quando outorgamos essas responsabilidades e deixamos que a tecnologia determine o que é melhor para nós, perdemos a capacidade de aprender com nossos erros e desenvolver uma compreensão mais profunda de nossos desejos, valores e necessidades. Foi essa capacidade de aprendizagem que nos tirou das cavernas e nos colocou no topo da cadeia. Agora temos preguiça até de pensar e decidir em nível básico. As consequências desse erro já são visíveis e trágicas. 

O desemprego e a crise de propósito

Não há dúvidas que dos quatro itens que levantei que trazem perturbações, o desemprego é o que mais deve ter esse poder. Desde sempre aprendemos que o trabalho dignifica o homem. Isso é assim em qualquer país ou cultura. Então temos que o problema não é só o desemprego em si, trata-se de perda da dignidade, um bem de valor intangível. E como uma coisa tão importante, de valor imensurável pode simplesmente ser tomado pela tecnologia

A automação do trabalho não é algo novo e sempre foi, e muito, incentivada. Povos antigos já faziam isso para a sobrevivência, os povos modernos evoluíram as técnicas e agora, os “povos tecnológicos” – nossa época, simplesmente levaram a coisa ao estado da arte, porque a tecnologia já possui a informação necessária para executar qualquer tarefa conhecida, ou quase todas necessárias para gerar o caos. 

Milhares de profissionais documentaram suas atividades, seus processos, suas artes ao passar do tempo. Registraram como se faz, identificaram os erros e como não realizar um determinado processo ou ação. Ensinaram tudo a todos. Inevitável perceber o que aconteceria, não é mesmo? Por que não fazer tudo mais rápido, melhor e mais barato? Eis a resposta; é autoexplicativa e está feito. Viva as máquinas. 

Quem estudou em algum momento as teorias da administração ou participou de alguma palestra de motivação no trabalho vai se lembrar de um monte de historinhas sobre eficiência, sobre aquele colaborador que ganhou o aumento porque fez melhor com os mesmos recursos que outro, etc. É quase a mesma coisa, só que agora o trabalhador perdeu seu posto pra um robô ou algoritmo. De certa forma, construímos esse futuro há muito tempo e agora ele é o presente, e nos assombra inevitavelmente. Perdemos. 

Com tudo isso, vejo que o desemprego causado pelos avanços da tecnologia e informação devem ser observados pela ótica da adaptação de forma meio que obrigatória. Quem não se adaptou com o passar do tempo e da tecnologia, não adquiriu outras habilidades ainda não totalmente aprendidas pelas máquinas, ou mais importantes, e quem também não abraçou a tecnologia como intrínseca ao seu trabalho, esse indivíduo simplesmente perdeu seu lugar, está com seu aspecto profissional extinto. Daí, passamos para a crise de propósito. 

Sem emprego, qual é o meu propósito? Com tal questionamento, muitos leitores vão dizer: pergunta absurda! Não é porque alguém perde o emprego que perde seu propósito. Eu concordo. Porém, devemos ser sinceros e perceber que o mundo é maior que nossa casa e nossa vizinhança – principalmente para quem mora em condomínios fechados, pois ali, encontram-se pessoas mais ou menos na mesma situação social em quase todos os aspectos; é quase uma bolha. O meu ponto é quando ligamos desemprego com o conceito de subsistência, do tipo: sem emprego, sem renda; sem renda, sem vida digna. Pense gora: se você não consegue dar uma vida digna para sua família, qual é o seu propósito? Sua utilidade? Poderia escrever livros só sobre isso, mas vamos deixar por aqui. Acho que consegui transmitir as perturbações possíveis, para as pessoas, devido à tecnologia. 

👉 Leia esse artigo sobre IA e desemprego: Desempregado? Hora de virar mestre em IA

Conclusão 

As perturbações e benefícios trazidos pela tecnologia e informação, como vimos, são diversas e podem conter em uma lista infinita quanto mais pessoas forem questionadas a respeito. Identifiquei alguns fatores apenas atendendo aos dois lados. A verdade observável é que benefícios ou perturbações serão válidas até para as mesmas pessoas dependendo apenas da situação, do uso e de qual tecnologia utilizada no momento. Até da hora do dia, na certa, se considerarmos a internet, por exemplo. 

Mas foquei nas tristezas e injúrias causadas. Posso até traçar uma linha de causa e efeito para alinhar os quatro motivos das perturbações. O excesso da tecnologia causou bolhas de visões e pensamentos tirando as pessoas da realidade, ao passo que a automação em massa de atividades triviais arrancou a capacidade de tomada de decisões básicas, porém importantes das pessoas; e como o desemprego causado pela informação repassada às tecnologias ao longo das eras as tornaram melhor que nós na execução de atividades e processos, tirando nossa utilidade e propósito. 

O sofrimento é geral para uma geração de pessoas e uma alegria inovadora para outra. O fato é que as reclamações são crescentes e incessantes por todos os povos do mundo, uns mais outros menos. Países tentam frear esse descontentamento criando políticas de compensação, planejando a implantação de tecnologias, outros tantos tentam controlar as informações, porém, parece não ser possível conter a tendência. Parece filme de ficção científica, mas não é. 

No impasse, só resta tentar conscientizar a todos que sofrem, ao mesmo tempo que se esforce em prepará-los, de alguma forma, para esse fato e necessidade de adaptação e planejamento de futuro. Esta é uma preocupação de empregadores de todo o mundo e vários planos estão em andamento conjuntamente a governos e representantes de trabalhadores. Mas o tempo não espera. Então, que as autoridades e empregadores se apressem e que trabalhadores entendam e se preparem. O que não vai dar, com certeza, é impedir o inevitável. 

Pessoas não tecnológicas diante do abismo
Pessoas não tecnológicas diante do abismo

 👉 Confira essa matéria sobre o assunto: Inteligência artificial pode afetar 300 milhões de empregos no mundo, diz Goldman Sachs

Por Rodrigo Gomes Rodrigues

Aceitação e Pertencimento. Problema pessoal, social e geracional

Mulher ao centro de várias mãos

🎸As gerações de 60 e 70 tinham um senso de pertencimento mais enraizado devido à estabilidade das estruturas sociais e culturais. As gerações de 90 em diante enfrentam maior dificuldade por causa da fragmentação das referências identitárias e da hiperexposição proporcionada pela tecnologia. 📲

Aceitação e pertencimento. O que significam? 

Tenho certeza que que você reconhece que aceitação e pertencimento são sim causas de problemas pessoais e sociais, até mesmo porque um leva ao outro consequentemente. Isso é bem evidente. Mas também sabe que essas duas “condições”, bem consolidadas e firmes em indivíduos maduros e fortes dão origem a uma força grandiosa nessas pessoas. Então, parece ser necessário que existam fatores anteriores que definem as diferenças e semelhanças entre pessoas que se aceitam, que sabem a quem e onde pertençam, e de que forma isso ocorre. Vou discorrer sobre alguns desses possíveis fatores no intuito de entender um pouco mais. Convido o leitor nesta empreitada. 

Para fins deste texto, não vou me apegar aos conceitos históricos, etimológicos das palavras e essas coisas intelectuais. Nesse momento, acho melhor me reter no significado mais amplo e prático que cada uma delas têm, considerando o que elas significam em contexto de aceitação social, resignação e assuntos de diversidade nos termos atuais. Imagine também dessa maneira: o que é aceitação? O que uma pessoa simples entende, em si mesma, sobre pertencimento. São duas palavras tão íntimas a cada um do nós, parecem tão perto como nossa própria sombra, por que aceitar e pertencer? Aceitar quem? Quem me aceitar? Eu pertenço ao aqui e agora, pertenço a mim, à família, ao meu pai, minha mãe, meu filho… pertenço a Deus. O que mais há que isso? 

Há a necessidade de uma expansão de consciência que precisa sim ser observada para entender o significado dos termos, e acho que ignoramos muito a realidade desta expansão. Não somos e não estamos sozinhos no mundo, e essa é a expansão. Se considerarmos que somos sozinhos, no nosso quarto ou na nossa casa, sem sair, aceitação e pertencimento terão um significado tão estrito que vai parecer mesmo um exagero discutir sobre a utilidade dos termos ou que eles têm tanto significado possível de observação. Mas, olha só a novidade: não somos seres isolados, sozinhos. A verdade é que somos apenas peças de uma sociedade, parte de um todo muito mais forte e importante, e nem vou colocar à prova aqui esse conceito. Quem acha que sozinho está, precisa dar um passo atrás e considerar mais alguns detalhes. Vou deixar aqui o conceito de família e casa (no sentido de que: saia de casa e não estará mais sobre sua individualidade) apenas para deixar o gancho para futuras discussões. 

Então vamos focar na realidade fática que não estamos isolados, e que invariavelmente, para existir além de nossos quartos, precisamos realmente que outras pessoas, sistemas ou sociedades precisam nos aceitar, estar presentes e atuantes. E só se é aceito se, e somente se, pertencermos a este sistema ou sociedade de forma consensual por essa sociedade ou sistema, o que nos mostra que não temos nenhum controle direto sobre as regras de aceitação e pertencimento. Zero controle, na maioria das vezes, pelo menos. Em sociedade, o que temos em nós mesmos sobre se aceitar e pertencer, em nossos “mundinhos”, simplesmente não cabe tão bem quanto sozinhos. Convencionalmente são as regras gerais à princípio, não as individuais, que vão ter mais força quando confrontadas. 

Mulher pensativa

Uma visão de mundo entre gerações 

Então, temos que aceitação e pertencimento são pertinentes porque estamos em sociedade, pois precisamos sim pertencer a grupos, aceitar regras de muitas maneiras ao passo que também apresentamos regras próprias para que aceitemos ou não pessoas em nosso convívio. Então a questão é: Por que aceitação e pertencimento ainda é causa de perturbações aos indivíduos, e de uma maneira tão extrema? Eu particularmente indico fatores geracionais como candidatos fortes à culpa. Tendo empiricamente a culpar a “visão de mundo e das coisas”, visão extremamente diferente para as três últimas gerações que estão convivendo de forma muito diretamente, compartilhando de forma inédita suas culturas, nível de instrução e suas verdades. Acho que daí nascem as perturbações. 

Eu citei as últimas três gerações, mas na verdade é melhor explicitar melhor e considerar duas: as pessoas de nascimento entre as décadas de 60 e 70 em um primeiro grupo e as pessoas que nasceram ou tiveram sua infância/adolescência a partir das décadas de 90 e os anos 2000 em outro grupo. A divisão correta ou pedagógica entre as gerações não é essa, mas aqui serve para mostrar as diferenças gritantes das visões de muito e das coisas entre elas. É realmente gritante. Perceba que deixei de fora o grupo de pessoas que nasceram nos anos 80 e meados de 90. Deixei de fora por considerar uma geração de transição. Nela temos características dos dois extremos de tal forma que, às vezes, nem dá pra saber em qual grupo um indivíduo dessa geração possa estar. A geração de 80 está de mãos ainda seguras nas rédeas e realizando a transição de tudo de um mundo para outro. A geração 80 nasceu em um mundo e entregará outro totalmente diferente, então sua visão preponderante é mista, transitiva, e não vejo que ela deseje manter sua visão para o futuro, mas fomentar a próxima

Voltando à questão, então. Aceitação e pertencimento perturba todas as pessoas sim, mas acredito que de forma diferente para as pessoas dos grupos geracionais citados. A visão de mundo e das coisas que identifico como fatores “culposos” giram em torno do contexto socioculturais entre esses grupos, principalmente no diz respeito, especificamente, a: 

  • Identidade social; 
  • Música e cultura; 
  • Pressão por autenticidade e conformidade; 
  • Influência da tecnologia. 

Para a geração antiga, percebe-se que os itens listados são percebidos de maneira diferente das percebidas pela geração nova. Se o leitor é da geração velha, conhece pessoas dessa geração ou já conversou com elas vai perceber isso facilmente. Vai perceber as nuances se ouvi-las. 

A primeira geração viveu em um mundo mais estável. Os papéis sociais eram mais definidos e os questionamentos acerca disso eram poucos frente às necessidades da época. Não que inexistiam, mas o papel da família, religião, trabalho e o ciclo de vida entre estudar, trabalhar, estabelecer família e aposentar já dava a cada um o senso de aceitação do seu dever social e pertencimento social a ser cumprido. Esta era a norma cultural e de conformidade natural. Isso era pertencer a um grupo: família, igreja, casa, escola, trabalho e aposentadoria digna com as conquistas materiais a serem passadas para a prole. 

A música e a influência tecnológica, para os primeiros geracionais, são exemplos mais marcantes, pois são os que mais mostram os indivíduos dessa geração apresentando ou expressando suas visões sobre aceitação e pertencimento. Naquela época, a música e a cultura em geral enfatizavam a rebeldia contra sistemas opressores de todos os tipos, mesmo assim, havia um senso de coletividade muito forte e mais maduro que na nova geração. Os movimentos musicais de grupo eram indicativos disso como os hippies, os punks, o movimento disco, etc. As pessoas desses movimentos eram unidas por uma visão coletiva de aceitação que sobrepujava o individualismo. Pertencer a esses grupos significava abrir mão de suas regras e aceitar as regras do grupo. Com a nova geração, não é bem assim.  

A influência tecnológica era menor que a influência das ideias do grupo. As pessoas se encontravam em grupos para conversar e expor seus pensamentos e argumentos. Era necessário falar frente a frente e ao vivo. Acredite, isso muda tudo no relacionamento entre as pessoas. No caso, verificamos que a influência da tecnologia para essa geração não foi tão fundamental pelo fato de simplesmente não ser avançada à época. Não existir celular e internet de forma como temos hoje influenciou certamente. 

Por sua vez, a nova geração teve sua visão de mundo alterada para esses mesmos quesitos. Para a identidade social e influência tecnológica, creio que são o ponto de partida essencial para as diferenças para a visão de mundo e das coisas. A estabilidade da velha geração não é a mesma aqui. Com a tecnologia, internet e redes sociais veio a hiperconectividade, globalismo, individualismo e a consequente fragmentação dos referenciais que eram tão fortes antigamente. 

Quando se fala sobre os quesitos música e cultura e a pressão por autenticidade, percebe-se que a nova geração se tornou tão plural nisso, com tantas variedades de opções disponíveis, tanta informação e caminhos a seguir que a própria identidade individual se tornou fragmentada e fluída ao ponto de gerar mais questionamentos ainda sobre pertencimento e aceitação. Agora, ao invés de pertencer a um grupo pela música ou alguma linha cultural, a pessoa tem a sua própria, para si, onde existe apenas ela mesma com seu fone, sua playlist e sua série. Ninguém mais é aceito ali. Nem pai, nem mãe, nem irmã, nem esposo e nem filhos. 

Uma dificuldade da nova geração

Com tudo isso, a nova geração ainda é pressionada para se encaixar, para ser autêntica. Fico pensando em como isso seria, pois a fragmentação de referências sociais básicas foi intensificada. Não há mais, para a nova geração, a unidade consensual sobre o papel de família, trabalho, religião, amizade, etc. Cada indivíduo da nova geração é um mundo isolado mesmo numa sociedade globalizada. Mesmo com mais pessoas, mais cultura, mais diversidade e mais informação, as novas pessoas se excluíram mutuamente. É uma contradição difícil de lidar. A nova geração não tem critérios de aceitação e pertencimento nem pra elas mesmas em seus próprios quartos. É evidente que a nova geração cresceu com expansiva oferta de oportunidades e opções tais que a melhor escolha é ficar parado, isolado, aguardando sem prosseguir.  

Um novo nível de comparação social e autoavaliação agora existe, dificultando o pertencimento, e ele vem agora de fora, de uma tela, não mais do próprio indivíduo com os seus semelhantes sociais. Fica fácil entender o porquê as duas gerações divergem a visão de mundo e das coisas quando se fala em aceitação e pertencimento. É porque são mesmo visões muito deturpadas de conceitos que eram estabelecidos e que foram fragmentados rápido demais e sem que houvesse realmente essa deturpação. Ou seja: olha-se agora para o conceito de família e cultura, por exemplo, de forma diferente, sem que houvesse, de fato, mudança no conceito de família. E ninguém questionou a visão deturpada. Só sobrou se perturbar por não aceitar ou ser aceito e não pertencer a nada.  

Homem na montanha

Tentando concluir a visão 

A grosso modo, e com tudo que foi exposto, podemos resumir que as gerações de 60 e 70 tinham um senso de pertencimento mais enraizado devido à estabilidade das estruturas sociais e culturais, enquanto as gerações de 90 em diante enfrentam maior dificuldade por causa da fragmentação das referências identitárias e da hiperexposição proporcionada pela tecnologia e a nova ordem de coisas que dela veio. 

Vimos que os fatores foram os mesmos para as duas gerações e que, apesar de poucas mudanças, ou quase nenhuma, que sejam fundamentais nesses fatores – música ainda é música e trabalho ainda é trabalho, as visões mudaram muito. Talvez a única diferença entre as visões tenha um aspecto de escassez, de entender o que é suficiente para ser aceito e para pertencer a algo. Parece que para a geração antiga não era preciso muita coisa para se sentir aceito e pertencer aos grupos e ao mundo. A nova geração parece precisar de mais, ela tem mais critérios para atender. Muitos critérios e variáveis que trouxeram, de fato, paralisia. 

De toda forma, aceitação e pertencimento, independente da geração a que um indivíduo pertença, não podem ser ignorados, pois é impossível. Da maneira que o leitor encarar esse tema em sua vida deverá fazê-lo com atenção. Ignorar só vai piorar as relações e entender como funciona pode melhorar a vida social e individual, uma vez que o próprio indivíduo precisa se aceitar e pertencer ao seu próprio papel no mundo, mesmo que o mundo seja seu próprio quarto. Você precisará ser aceito pela pessoa do espelho. 

🤓 Leia os artigos relacionados abaixo. Vai ajudar a compreender melhor o tema:  

📝 As angústias vividas pela humanidade nos últimos 40 anos

👉A Dimensão Emocional do ser humano

📜 Pressão social gera estresse de forma diferente em jovens e adultos; e 

Política e Conflitos

Politica no palanque

A política, como ferramenta de promoção do bem comum tem falhado miseravelmente. O conceito maquiavélico adotado por políticos da atualidade causa muitos conflitos às pessoas comuns. Vamos discorrer sobre uma possível explicação para isso.

No meu blog, eu escrevo sobre autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, de forma bem amadora, eu confesso. Minha abordagem e técnica estão longe dos escritos profissionais; não tenho a habilidade para tanto. Meu desejo é apenas expressar os sentimentos que tenho, traduzidos em um pouco de informação e achismos. Escrever me faz bem. É minha forma de participar da disseminação desenfreada, porém útil, das ideias na era da informação livre. E dentre os muitos tipos de informação, o tema política está em voga.

Minha pretensão é discorrer sobre política, mas não de forma a defender preferências. Quero discorrer um pouco sobre o conceito de política, o que ela deveria significar para a vida das pessoas e, principalmente, sobre os conflitos que dela nascem. Tenho um olhar um tanto difuso sobre isso e o convívio social me revela que não estou sozinho em muito do que penso. Parece haver um consenso sobre alguns conceitos, visões e até alguns fatos, que se bem observados, é possível entender meu ponto de vista.

De início, é necessário deixar claro que o objetivo do artigo é evocar a política e os conflitos decorridos dela, em uma visão de causas e consequências sobre quem busca viver melhor, que busca compreender a si mesmo e desenvolver a si próprio. Pretendo demonstrar como a política, originalmente concebida como um meio para o bem comum, foi transformada ao longo da história em um instrumento de poder. Essa transformação, como veremos, está na raiz de muitos dos conflitos que enfrentamos hoje.

Com isso, mostrarei a possível ligação entre a política praticada no Brasil e os conflitos que ela traz para quem quer viver em paz e prosperidade e, de alguma forma, não consegue. Convido o leitor a se engajar nessa linha de raciocínio. Não veja como uma aula ou determinação de ideologia, trata-se apenas de observações na tentativa de justificação a dores que talvez sejam comuns entre um número cada vez maior de pessoas.

Necessário partir do ponto comum de conceituação básica: o que é ou deveria ser política. Precisamos recorrer à filosofia – como sempre. A palavra “política” tem sua origem no termo grego “politiké” que se refere a assuntos públicos ou, mais especificamente, à arte ou ciência de governar uma pólis (cidade-estado). Na Grécia Antiga, a política estava intrinsecamente ligada à organização e administração da vida coletiva, sendo considerada uma atividade nobre e essencial para o bem-estar da comunidade. Recorro a três autores filosóficos sobre o tema, pois foram deles os primeiros conceitos. Eles são Platão, Aristóteles e Maquiavel.

Platão aborda a política em suas obras, especialmente em “A República”, onde ele propõe a ideia de uma sociedade ideal governada por filósofos-reis. Para Platão, a política deveria ser guiada pela sabedoria e a justiça, e não pelos desejos individuais ou interesses egoístas. Com Aristóteles, aluno de Platão, temos um dos conceitos mais clássicos de política, em que ele define o ser humano como um “animal político” (zoon politikon). Para ele, a política era a forma pela qual as pessoas organizavam a vida em sociedade, visando o bem comum. Aristóteles via a política como uma extensão natural da vida em comunidade, onde o objetivo era alcançar a eudaimonia (felicidade ou bem-estar) através de uma vida virtuosa. Consideremos o último autor do nosso caso. Maquiavel ofereceu uma visão mais pragmática e realista da política em O Príncipe. Ele se afastou do idealismo grego e focou no poder e na sobrevivência do Estado, introduzindo a ideia de que a política é, em essência, a arte de conquistar e manter o poder.

Para que fique mais fácil o entendimento irei organizar de forma sequencial o significado de política dentro do pensamento de cada um dos filósofos. Primeiro, admite-se que numa sociedade organizada há de se ter um governo em que o ideal é que tal sociedade seja governada, porém tal governo deve ser exercido por pessoas pensantes, amantes da sabedoria e justiça, sendo uma e outra indissociáveis entre si. Depois, temos a indicação certa que a sabedoria e justiça são os atributos de um governo imbuído da missão de trazer a felicidade e o bem-estar através das virtudes. Os dois primeiros autores apresentam a prática política como ferramenta nobre, exigindo das pessoas a sabedoria para operar tão nobre atividade. O terceiro autor, Maquiavel, já destoa do conceito nobre e oferece a política como ferramenta de conquista de poder e a manutenção dele pelo Estado.

É irônico escrever sobre isso agora, pois em outros textos, sempre levantei a questão do quão importante é para as pessoas estudarem sobre filosofia e história. Digo isso, pois o leitor concorda comigo que, só pela apresentação dos conceitos, já é possível enxergar os conflitos que hoje vivemos. Parece ser o caso de que os políticos atuais têm seu autor predileto. Concordam? Pois bem, vamos continuar, mas acho oportuno destacar as palavras e termos usados no texto até agora, eles têm um peso enorme quando focamos nosso pensamento neles. Vamos instituir a linha de raciocínio:

1 – Vivemos em sociedade e ela deve ser ideal;

2 – Para ser ideal deve ser dotada de bem-estar e ser governada por alguém sábio e justo para frear interesses egoístas;

3 – Os cidadãos não iriam se opor, pois o homem é um ser político, a forma de governo seria algo natural e eles conseguiriam aprender e praticar suas virtudes;

4 – De alguma forma, os governantes deveriam se manter no poder, após perceberem que a política é a arte da conquista.

Estabelecida a linha de raciocínio, identificamos que algo não deu muito certo na linha da história da política. Nota-se que houve uma quebra de pensamento ao decorrer do tempo. Temos que a sociedade grega e seus filósofos foram vencidos em algum momento, mesmo com um legado gigantesco. Após o momento de ruptura, a sociedade, ou seus governantes, provaram do poder e subjugaram a sabedoria e a justiça. O bem-estar e as coisas virtuosas foram relegados à manutenção do poder. Sem nenhum outro objetivo senão o poder. A sequência de raciocínio colocada nos itens de 1 a 4 mostra que, ao longo do tempo, a prática política se distanciou dos ideais nobres. A conquista e manutenção do poder passaram a ocupar o centro das atenções, como sugerido por Maquiavel. Com isso, os valores de sabedoria e justiça se tornaram secundários.

Verdade seja dita. Dos tempos de Platão e Maquiavel muita coisa mudou. As sociedades se transformaram absurdamente. O contexto político de cidades-estados ou de estado-nação já não existe mais como antes. A política moderna é agora global, envolve múltiplos atores, níveis de governança e, principalmente, sociedades com culturas diversas. O contexto agora gira em torno de participação democrática, representação, direitos civis e participação popular no poder. Esta última gera tantos conflitos que merece um artigo à parte.

Então, com essa evolução (ou involução), como se pode conceber a ideia de que a política gera tantos conflitos? Temos democracia, participação popular no poder e decisões, eleições e direitos tantos, então de onde se originam os conflitos? Bem, na minha visão, os conflitos surgem exatamente quando houve a ruptura conceitual e prático da política entre moral/virtuoso para amoral/poderoso. A visão de poder de Maquiavel explicitamente se tornou a praticada, e com pensadores dos últimos dois séculos tivemos definições de Estado, cada vez mais forte, poderoso e único capaz de saciar as necessidades da população. Ideia maravilhosa na teoria, no entanto, as pessoas se apegaram absurdamente aos “direitos” prometidos pelo tão poderoso e benevolente Estado que passaram a enxergar esse poder prometedor de dádivas como a real origem de suas frustrações pessoais. Se um cidadão está frustrado, com efeito, sua sociedade estará também, de diversas formas possíveis.

A política praticada no Brasil já apresenta definição consensual por parte da população: “política é o ato de fazer negociatas para que o político e seu partido se mantenham no poder com todos os privilégios bancados com dinheiro de impostos”. Maquiavélico, não é mesmo? O termo negociata aqui não está empregado no sentido de diálogo democrático, com o objetivo de se chegar em um consenso bom para a sociedade. É empregada diretamente ao significado de realizar acordos entre grupos de poder para que eles ganhem sempre. É só realizar uma enquete nas ruas, entre cidadãos comuns, e a resposta evidenciará isso facilmente.

A política no Brasil é a ferramenta pela qual o Estado e seus atores políticos operam e mantêm seu poder, influência, privilégios dignos de realeza e, na maioria dos casos, suas fortunas. É através dessa ferramenta que se define quase tudo de ruim para o cidadão. Vejamos uma boa lista de exemplos de conflitos gerados pela política:

  • Polarização Política e Divisões Ideológicas;
  • Conflitos Econômicos e Desigualdade Social;
  • Disputas por Direitos Humanos e Liberdades Individuais;
  • Conflitos Territoriais e Separatismo;
  • Crises Migratórias e Políticas de Imigração;
  • Conflitos Relacionados ao Meio Ambiente e Políticas Climáticas;
  • Conflitos sobre Governança e Corrupção;
  • Conflitos Internacionais e Intervenções Militares;
  • Reformas no Sistema de Saúde e Bem-Estar Social;
  • Censura e Controle de Informação.

Os itens da lista estão em pares justamente para mostrar que dada uma certa política, por mais bem intencionada que seja, gera sempre seu viés contrário – muitas vezes suplementares, como se fosse uma imagem invertida no espelho. Em quase todos os países do mundo existem conflitos nessas áreas. Em alguns, teremos um grau maior e, em outros, um grau menor dessas espécies de conflitos. No Brasil temos todos eles em alto grau.

É claro que alguém vai argumentar que muitas das políticas são benéficas para a sociedade, pois não estaríamos vivendo melhor que as sociedades antigas, que houve avanços e melhoria de vida. E eu até concordo. Porém o custo é muito alto. É alto porque a qualidade de vida gerada por uma política significa que a sociedade, sem dúvidas, abriu mão de muito do seu dinheiro, da sua liberdade e de seus direitos, para que tal qualidade se efetive. E nunca se dá de forma geral, pois é sempre um grupo menor de indivíduos que observam tal qualidade.

O cidadão comum perde enquanto o político ganha mais privilégios, pois ele cobrará votos para continuar no poder, em troca da boa ação que foi financiada pelo cidadão comum. Significa que o comum pagou muito e recebeu só um pouquinho, pois tem que dividir o direito com a sociedade ou a famigerada coletividade. O mandato do político é só dele e do partido dele.

A prática da política é tão amoral atualmente que, na minha visão, o cidadão, nas democracias modernas, têm apenas dois direitos inquestionáveis: votar e pagar imposto. O ato de votar serve para manter o sistema político e o pagamento de impostos serve para financiar os custos, sejam quais forem. Não há mais nenhum tipo de participação.

Com essa certeza, o cidadão comum sofre, e um dos piores conflitos que ele tem é consigo mesmo, pois ele se sente um inútil toda vez que ele percebe que, não importa o governo ou seu político, sua vida continua a mesma. Ele consegue perceber que, qualquer político, em quatro anos de mandato, fica rico sabe-se lá como. Isso se verifica através de qualquer declaração de renda de qualquer vereador de cidade pequena, por exemplo. O cidadão percebe que deve trabalhar cinco meses só para pagar impostos. Ele tem conflitos com sua família quando percebe que dificilmente consegue um tratamento de saúde pública enquanto assiste pela TV o político tendo acesso aos melhores hospitais, para si e para a família inteira, e para sempre. Tudo com dinheiro de impostos. Ele tem conflitos enormes quando percebe que a educação dos seus filhos estará praticamente condenada se depender do ensino público, enquanto assiste atônito, o político dizendo com orgulho que seus filhos foram estudar na europa.

Em última análise, e partindo para a conclusão, temos que os conflitos que se originam da política atingem todas as dimensões do ser humano. Afetam os fatores do cotidiano de forma intensa, pois coloca o cidadão sempre a analisar sua participação em tudo isso, e como tudo afeta sua qualidade de vida. E ele nunca se sentirá bem. A política, como praticada hoje, é tão amoral que consegue colocar a culpa no próprio cidadão. Se der certo, é mérito do político e ele se beneficiará cada vez mais. Se der errado, é culpa do cidadão que não sabe votar. Bem, essa última afirmação é uma condição gerada também por diversos outros fatores como educação e cultura, que no caso Brasil, é digno de um artigo à parte.

Em outros artigos sobre política vamos abordar mais nuances da política no Brasil e no mundo, sempre tentando identificar como ela pode afetar nosso autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. O fato é que não é possível não ter política. O que devemos fazer, pelo menos na minha pouca experiência, é buscar meios de entender melhor como se deu a ruptura da política. Entender como passamos de um conceito nobre e baseado em virtudes e vivemos a prática do poder pelo poder. Uma vez que vamos amadurecendo, acredito ser possível, em nível individual, nos conectarmos com os ideais de sabedoria e justiça. Devemos, então, reconhecer que a solução passa por transformar a política ao passo que desenvolvemos dentro de nós, cidadãos comuns, os significados e a prática constante da sabedoria e justiça como princípios.

A política causa diversos conflitos na vida dos indivíduos, não restam dúvidas. Desde os problemas da vida cotidiana até guerras mundiais que arrasam vidas e nações inteiras. Desde a formação da pessoa até a caracterização de uma cultura inteira. Desde a descaracterização de qualidades humanas até a manipulação total dos direitos inalienáveis e naturais do ser humano. Contudo, concluo com minha posição a respeito de política: definitivamente, a política atual e maquiavélica, nunca será uma ferramenta de prosperidade ao homem comum.

Por Rod (Veja Claramente)

Modelo Veja Claramente – Parte 4: As Ferramentas de Transformação

livro magico flutuante

As Ferramentas de Transformação compõem a última parte do Modelo Veja Claramente. É através delas que acredito termos condições de resolver nossos conflitos sem precisar reinventar a roda. Já está tudo pronto. Só ler e aprender.

Neste último artigo da série em que apresento o “Modelo Veja Claramente”, que nada mais é do que minha abstração sobre um conjunto de conhecimentos e ferramentas úteis para alcançar autoconhecimento e, consequentemente, desenvolvimento pessoal, abordarei os conceitos de nível operacional. Nos artigos anteriores, levantei os conceitos dos níveis tático e estratégico. Se o leitor quiser conhecê-los antes de prosseguir para esta última parte, basta acessar os artigos anteriores:

Parte 1- Apresentando o Modelo – Visão geral;

Parte 2 – As Dimensões Humanas – Conceitos de nível estratégico do ser; e

Parte 3 – Os Fatores Cotidianos – Conceitos de nível tático do ser.

Prosseguimos, então.

As Ferramentas de Transformação são recursos poderosos que facilitam o processo de desenvolvimento pessoal e autoconhecimento. Elas incluem Filosofia, Psicologia, Religião/Espiritualidade e Estoicismo. Essas ferramentas servem como guias para refletir, questionar, entender e transformar nossos pensamentos, comportamentos e percepções, promovendo uma vida mais equilibrada e consciente. Por considerar que são ferramentas úteis, as insiro no nível operacional, como já dito.

“As ferramentas são o conjunto de conhecimentos e saberes, já disponíveis no mundo, de forma ampla e gratuita. Não se tratam de coisas novas, mas de conhecimentos milenares e provados ao longo dos séculos. Com essas ferramentas, o indivíduo conhecerá os princípios fundamentais da existência, saberá tudo sobre o comportamento humano, suas causas e efeitos, poderá encontrar respostas e até propósito, enquanto aprende sobre virtudes e comportamentos que, com certeza, mudarão sua perspectiva de vida. E certamente viverá melhor.” (Rod Veja Claramente).

Filosofia

Esquecida com o passar do tempo pela maioria das pessoas, a filosofia será sempre um farol a iluminar mentes. É simplesmente a arte de pensar, dar lógica ao pensamento e sentido às ações do ser humano. A história é repleta de pensadores de todos os níveis e de todos os assuntos imagináveis. Todos eles deixaram um legado de pensamento, compreensão e resolução de quase todos os problemas em que o indivíduo é fator central. Autores, livros, poemas, arte… Toda obra filosófica monta uma estrutura real de ferramentas que podemos usar para entender e solucionar problemas.

A Filosofia, como ferramenta de transformação, oferece um quadro para examinar a natureza da realidade, a ética, a existência e o conhecimento. Ela nos ajuda a questionar nossas crenças, entender diferentes perspectivas e tomar decisões mais informadas. Para identificar a filosofia como uma ferramenta útil, identifiquei quatro fatores de destaque: Reflexão Crítica, Autoconsciência, Ética e Tomada de Decisões.

A prática filosófica promove a reflexão crítica, incentivando-nos a questionar as verdades aceitas e a examinar nossas próprias suposições. Esse processo de questionamento leva à autoconsciência, uma compreensão mais profunda de quem somos e do que valorizamos. Filósofos como Sócrates enfatizavam a importância do “conhece-te a ti mesmo” como ponto de partida para a sabedoria.

Com a filosofia, aprendi que a reflexão sobre as coisas da vida, das mais importantes até aquelas corriqueiras, é fundamental para a autoconsciência. Nos textos dos autores, são sempre encontradas análises em que a observação sobre problemas e conflitos, ou eles partem do “eu mesmo” ou vão para “o meu eu”. Ou seja, reflexão e autoconhecimento são explicados, na filosofia, em uma dinâmica de causa e efeito de quem pensa.

A ética filosófica nos ajuda a considerar as implicações morais de nossas ações. Ao aplicar princípios éticos, podemos tomar decisões que estão alinhadas com nossos valores e que promovem o bem-estar tanto pessoal quanto coletivo. Esse enfoque na ética é essencial para viver uma vida coerente e significativa.

Psicologia

Não tão antiga quanto a filosofia, mas com um patamar de importância altíssimo. Sem exagero, posso dizer que a psicologia, como ferramenta de melhoria do homem, é mais concebida que a filosofia. É bem mais fácil encontrar alguém dizendo: “procure um psicólogo” do que outra dizendo “vá a um filósofo”. Talvez isso se dê porque a psicologia oferece insights sobre o comportamento humano, emoções, pensamentos e relações. A psicologia e suas escolas nos equipam com técnicas e teorias que podem ser aplicadas para melhorar a saúde mental, a resiliência emocional e o crescimento pessoal.

A psicologia nos ajuda a entender nossos padrões de pensamento, emoções e comportamentos, facilitando o autoconhecimento. As suas escolas, abordagens e terapias aplicadas nos ajudam a perceber alguns fatores que considero fundamentais: por que sou assim? Por que sinto isso? Por que meu comportamento é assim? A psicologia consegue apontar até fatores sociais que operam dentro de uma realidade de forma observável e medida.

Não conheço nenhuma área atual que exista, como técnica de melhoramento de pessoas e organizações, que não se baseie, em diferentes graus, na psicologia e suas disciplinas. De famílias a grandes organizações empresariais, esportivas e até nas guerras, o fator psicológico sempre está lá para ser aprendido, ensinado e, de uma forma ou outra, decisivo.

No estilo de vida social que temos atualmente, com tecnologias e narrativas, dois fatores precisam se destacar sobre a psicologia moderna: Relações Interpessoais e Comunicação. É imperativo saber se relacionar, e não é possível fazer isso com sucesso se não houver a capacidade de se comunicar. Trata-se de ferramentas psicológicas essenciais para melhorar as relações interpessoais.

A comunicação assertiva, a empatia e as habilidades sociais são aspectos desenvolvidos através da psicologia, permitindo uma interação mais saudável e construtiva com os outros. Compreender as dinâmicas de grupo e os processos de mediação de conflitos é crucial para manter relacionamentos harmoniosos e significativos.

Religião/Espiritualidade

A Religião e a Espiritualidade oferecem um caminho para explorar o significado da vida, conectar-se com algo maior e encontrar paz interior. Elas podem fornecer suporte emocional, propósito e um senso de comunidade. Vou chamar a atenção do leitor para dois conceitos-chave: Propósito e Significado de Vida. Com o significado desses dois fatores, me diga com sinceridade: você conhece alguém que não busca essas duas coisas na vida? E se por acaso conhece, me diga mais uma vez com verdade: te parece que essa pessoa está mesmo viva? Pois é.

A religião e a espiritualidade não são a mesma coisa. Conceitualmente, elas têm suas diferenças, e são importantes ao ponto de não ser possível a confusão entre uma e outra. Leia o artigo que produzi sobre essa diferença. Independentemente das diferenças, as duas são fundamentais para a grande maioria dos seres humanos. Não interessa em que parte do mundo esse ser humano se encontre, com certeza haverá ali práticas de religião e espiritualidade.

É uma ferramenta poderosa para encontrar propósito e significado na vida. Através da conexão com o divino, a natureza ou a comunidade, indivíduos podem sentir uma maior direção e clareza sobre seu lugar no mundo. Isso é particularmente útil em momentos de crise, quando as pessoas buscam respostas para questões existenciais. Como falamos anteriormente sobre as ferramentas psicologia e filosofia, juntamente com a religião, temos três temas que são tratados conjuntamente nas obras da história. Inclusive, nossos sentidos e noções de moral e ética vêm todos da cultura religiosa judaico-cristã.

Práticas espirituais e meditação, juntamente com oração e rituais religiosos, são técnicas eficazes para acalmar a mente, reduzir o estresse e cultivar a paz interior. Essas práticas permitem uma introspecção profunda, promovendo o autoconhecimento e a conexão com o eu interior. Além disso, elas podem fortalecer a resiliência emocional, ajudando a enfrentar desafios com mais serenidade. Culturas inteiras entregam seu bem-estar na religião e espiritualidade. São dezenas de vertentes e pensamentos religiosos na história de todos os povos, não deixando nenhuma dúvida sobre a importância dessa ferramenta pilar. Gostando ou não, elas sempre estiveram disponíveis, e todas são, em grande ou pequena parte, fruto delas.

Estoicismo

O Estoicismo, uma filosofia prática que surgiu na Grécia Antiga, é uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento da resiliência, autocontrole e sabedoria. Ele nos ensina a focar no que podemos controlar e a aceitar com serenidade o que está fora de nosso controle. Trata-se também de uma filosofia, pois é chamada de filosofia estoica e tem seus grandes filósofos estoicos. Essa observação se faz importante, pois o leitor pode achar que estou repetindo a ferramenta de transformação filosofia.

Eu fiz a distinção entre a filosofia, em seu termo geral, que é uma ferramenta fantástica pelo seu vasto e inquestionável saber, e o estoicismo, que coloco aqui como um subgrupo da filosofia, porque quero apontar três fatores fundamentais que me fazem identificar o estoicismo como uma ferramenta separada:

– Controle Emocional;

– Serenidade; e

– Virtude.

Os estoicos acreditam que o sofrimento surge da nossa reação aos eventos, não dos eventos em si. Ao aprender a controlar nossas respostas emocionais, podemos alcançar uma maior serenidade. Princípios estoicos como o “amor fati” (amor ao destino) e “memento mori” (lembrança da mortalidade) nos encorajam a aceitar o presente como ele é, sem nos deixarmos abalar pelo medo ou pela ansiedade.

O estoicismo também enfatiza a prática da virtude como o caminho para a verdadeira felicidade. Para os estoicos, a virtude é a única coisa verdadeiramente boa, e o vício é a única coisa verdadeiramente má. Isso significa viver de acordo com a razão, agir com justiça, e manter a temperança e a coragem em todas as situações. A virtude estoica é, portanto, uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento do caráter e do autodomínio. O leitor pode ler outro artigo chamado O Estoicismo, onde eu cito alguns dos principais estoicos da história, e outro artigo onde faço a introdução dele como ferramenta de transformação.

Conclusão

As Ferramentas de Transformação são essenciais para navegar as complexidades da vida moderna. Elas nos fornecem os recursos necessários para enfrentar desafios, tomar decisões mais conscientes e viver de acordo com nossos valores mais profundos. Ao integrar essas ferramentas no dia a dia, podemos alcançar uma vida mais equilibrada, significativa e plena de propósito.

Por Rod (Veja Claramente)

Modelo Veja Claramente – Parte 3: Os Fatores Cotidianos

mulher triste com dinheiro

Nesse novo artigo abordo mais uma etapa do Modelo Veja Claramente. Vamos falar mais sobre os Fatores Cotidianos. Quais são os fatores que temos que equilibrar todos os dias antes de estar em sociedade.

Os Fatores Cotidianos representam aspectos da vida que influenciam diretamente o nosso bem-estar e desenvolvimento pessoal. Eles estão divididos em cinco categorias: Pessoais, Profissionais, Financeiros, Crenças e Familiares. Sistematicamente, interagem com as cinco dimensões humanas (física, emocional, cognitiva, espiritual e social) para moldar nossa experiência de vida.

Compreender e equilibrar esses fatores é essencial para alcançar uma vida plena e alinhada com nossos valores e objetivos, até porque eu tenho certeza que o leitor vai concordar quando digo que os fatores são mais perceptíveis e de mais fácil entendimento que as dimensões. Compreendê-los e percebê-los não necessita tanto de um raciocínio filosófico, pois todos os dias, ao levantar da cama e sair de casa para qualquer atividade, o indivíduo já tem que lidar com eles.

Vou explicar melhor como eu vejo cada um e sua importância.

Fatores Pessoais

Os Fatores Pessoais abrangem a relação que mantemos com nós mesmos, incluindo nosso autocuidado, hobbies, interesses, metas pessoais e crescimento individual. Esses fatores estão profundamente conectados com a dimensão física e emocional, pois influenciam nossa saúde, autoestima e bem-estar geral. Um equilíbrio saudável nesses aspectos pessoais pode resultar em uma vida mais satisfatória e significativa, enquanto a negligência pode levar ao estresse, ansiedade e insatisfação.

O fator pessoal eu relaciono diretamente com o que eu chamo de “A Pessoa do Espelho”. Não importa o que uma pessoa pense, como encara o mundo. O que fez e como fez não interessa. O que pensa de si próprio e como lida com as consequências de seus atos não são de escopo de ninguém. Pelo menos esse é o pensamento de muitos, e talvez, possa ser verdadeiro esse argumento, em que pese a individualidade das pessoas. Mas eu garanto que existe uma pessoa a quem tudo isso interessa: a pessoa do espelho.

Quando olhamos para o espelho encontramos nosso maior crítico, acusador, juiz, carrasco, e em algumas vezes, nosso advogado. É claro que também encontramos nosso advogado, conselheiro, mentor, fã, ídolo, e em alguns casos patológicos, Deus. A comparação significa que o fator pessoal é o centro do equilíbrio diário com os outros fatores. Ele é o centro de comando, é o órgão gestor e fiscalizador dos outros fatores; é pela saúde dos fatores pessoais que uma pessoa gerencia as demais. E isso ocorre o tempo todo e todos os dias.

Então, uma vez que consideramos o fator pessoal um elemento fundamental e gestor, se olharmos de forma isolada, esse fator suscita pelo menos quatro elementos que destaco aqui como principais: O Autocuidado, a Saúde Mental, o Crescimento Pessoal e as Metas. Significa que o indivíduo, antes de pensar nos outros fatores cotidianos e como agir com eles, deverá olhar para si e ter em mente que se ele não ter consciência de que esses elementos devem estar maduros e pronto para o relacionamento com os demais fatores, sob o perigo de não medi-los de forma desproporcional. Se não fizer isso, com certeza o dia não será bom, e com possíveis consequências desagradáveis.

Fatores Profissionais

Os Fatores Profissionais incluem tudo o que se relaciona à carreira, trabalho, vocação e realizações profissionais. Este fator está intrinsecamente ligado à dimensão cognitiva, pois envolve a aplicação de habilidades, conhecimentos e criatividade no ambiente de trabalho. A satisfação profissional é um componente chave do bem-estar, e encontrar um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é essencial para evitar o esgotamento.

Com essa introdução, acho agora oportuno citar parte de um artigo que li sobre:

“Max Weber (1864-1920), jurista e economista alemão, considerado um dos fundadores da sociologia, disse que “o trabalho dignifica o homem”. Weber destacou que o trabalho se encaixava como uma das ações sociais mais nobres e dignas presentes na sociedade. E dignificar significa dar dignidade, enobrecer e realmente o trabalho possui um papel importante para isso, desde que, claro, seja realizado em condições salubres e respeite o ser humano que está realizando aquela função. O trabalho não apenas dignifica o ser humano, mas dá sentido à sua existência. Nos torna úteis para o outro e para nós mesmos”.

O artigo completo, de Marcos Alves Borba, pode ser lido em: O trabalho dignifica o homem

Emprego o termo trabalho aqui no sentido de profissão mesmo, ter uma profissão, um trabalho que o indivíduo executa com propriedade de saber; seja qual for, não apenas ganhar dinheiro de alguma forma, mas ter uma profissão, um conhecimento referencial capaz de dar sentido de realização ao indivíduo ao ponto dele perceber que, com ela, terá chances seguras de obter seu provimento.

E não só sustento, com verdade. O fator Profissional está ligado ao ser humano de forma intrínseca. Faz parte de viver em sociedade a necessidade de ter uma profissão. Não conheço ninguém que não tenha recebido de seus próximos a instrução de ter um trabalho, uma profissão. Pela minha pouca experiência de vida, todas as pessoas já recebem, desde crianças, essa informação ou instrução de se educar e ter uma profissão, pois é através dela que todas as outras conquistas existirão. É transmitido de pais aos seus filhos há milênios.

Todos os dias os fatores profissionais ocupam a mente e a preocupação das pessoas. A maioria de nós sai de casa, estuda e trabalha no sentido de ter uma profissão, e nela, estaremos dedicados a vida toda na maioria dos casos. Perceba que aumentam os casos de profissionais que trocam de profissão justamente para buscar satisfação, seja qual for, em outra profissão. É quase impossível não lidar com esse fator.

Assim como o fator pessoal, destaco alguns elementos essenciais da importância do fator profissional no desenvolvimento pessoal de um ser humano: Realização, Satisfação e Equilíbrio de Vida.

A realização no trabalho não se limita ao sucesso financeiro, mas também à sensação de estar contribuindo de forma significativa. Sentir-se valorizado e encontrar um propósito em suas atividades profissionais pode aumentar a motivação, o desempenho e o contentamento. O trabalho que alinha com os valores pessoais e as habilidades inatas tende a ser mais gratificante e menos estressante.

Manter um equilíbrio saudável entre as demandas do trabalho e as necessidades pessoais é crucial. Quando o trabalho domina excessivamente a vida pessoal, pode levar ao estresse crônico, problemas de saúde e distanciamento de relacionamentos importantes. A gestão do tempo, o estabelecimento de limites claros e a priorização de atividades de lazer e descanso são estratégias eficazes para manter esse equilíbrio.

Como se vê, fatores pessoais se alinham com os fatores profissionais e já percebemos facilmente que é dever de todos dar a atenção devida a isso. A dignidade e a nobreza de um indivíduo começa na compreensão desses fatores.

Fatores Financeiros

Esse fator é diferente do fator profissional e faço essa observação, pois apesar da proximidade, não há necessariamente uma relação direta entre um e outro apesar de, na maioria dos casos, ter uma profissão gera recursos para o indivíduo. Os Fatores Financeiros referem-se à gestão dos recursos econômicos, como renda, despesas, investimentos e segurança financeira. Eles têm um impacto direto na dimensão emocional, pois a estabilidade ou instabilidade financeira pode influenciar significativamente os níveis de estresse e a qualidade de vida.

Os fatores financeiros se relacionam diretamente com planejamento, segurança financeira e a relação do indivíduo com o dinheiro. Tanto que, como disse anteriormente, tem ligação com a dimensão emocional e, em muitos casos, as questões financeiras podem ser causa de infelicidades e tristezas enormes na vida de uma pessoa que não tem o mínimo de cuidado na relação com o dinheiro. E não raro, vejo isso acontecer com muitos que têm uma vida profissional e renda invejáveis.

O planejamento financeiro é uma ferramenta poderosa para alcançar segurança e tranquilidade. A elaboração de orçamentos, a poupança para o futuro e a compreensão dos princípios de investimentos são passos fundamentais para evitar preocupações financeiras. A estabilidade financeira proporciona liberdade para perseguir objetivos pessoais e profissionais, além de reduzir o estresse associado a incertezas econômicas.

Saber cuidar do dinheiro, aprender como funcionam as dinâmicas ao redor dele é fundamental, pois todos os dias lidamos com dinheiro, contas a pagar, dívidas, gastos de todos os tipos: aluguel, energia, água, supermercados, combustível, etc. Essas coisas são diárias e sem nenhuma possibilidade de não lidar com elas, inclusive tendo dinheiro ou não.

Nossa relação com o dinheiro é frequentemente moldada por crenças e atitudes que desenvolvemos ao longo da vida. Compreender e reavaliar essas crenças pode ajudar a criar uma abordagem mais saudável e equilibrada em relação às finanças. Por exemplo, evitar gastos impulsivos e cultivar hábitos de consumo consciente podem aumentar o bem-estar financeiro e reduzir a ansiedade.

Particularmente, considero esse fator o mais crítico atualmente. A cultura que, infelizmente criamos – ou aceitamos, é que o dinheiro serve para servir aos desejos e sonhos mais loucos das pessoas, e acredito que isso tem sido a fonte de distorções e problemas que perduram por uma vida inteira. Eu sei bem como isso funciona. Mas acredito que seja tema para um artigo em separado.

Fatores Familiares

Os Fatores Familiares referem-se às relações e dinâmicas dentro da família, incluindo o papel que desempenhamos como filhos, pais, cônjuges e irmãos. Esses fatores estão diretamente ligados à dimensão social e emocional, pois as relações familiares têm um impacto profundo em nosso bem-estar e felicidade.

Relações familiares saudáveis oferecem uma base de apoio emocional e segurança. O amor, o respeito e a comunicação aberta são elementos essenciais para nutrir essas relações. No entanto, conflitos familiares não resolvidos podem gerar estresse e ansiedade, afetando outras áreas da vida. Aprender a gerenciar conflitos de maneira saudável é vital para manter a harmonia no ambiente familiar.

Falar de relações familiares saudáveis é uma dificuldade para qualquer pessoa, pois a definição disso vai ser tantas quanto forem as pessoas a quem for perguntado. As diferenças culturais, as diferentes formas de educação e instrução das famílias, a regionalidade e até as questões financeiras são consideradas na hora de definir relações familiares.

Se observarmos a evolução das famílias na história, as diferentes formações e constituições vão determinar como os componentes dessas famílias se relacionam. Porém, independente da constituição e cultura, dois aspectos considero de extrema importância: o papel e as responsabilidades da família como fator cotidiano de um indivíduo.

Cada membro da família tem um papel específico, que pode variar ao longo do tempo. Compreender e aceitar esses papéis, ao mesmo tempo em que se comunica de forma eficaz, ajuda a manter o equilíbrio e a cooperação dentro da família. As responsabilidades, quando distribuídas de forma justa, promovem um senso de unidade e fortalecimento dos laços familiares.

Uma família desestruturada, principalmente no que tange ao modo como os componentes se tratam e resolvem seus problemas é determinante para definir se o dia de uma pessoa vai começar bem ou não, se ela terá o apoio que precisa para enfrentar os percalços da vida. Problemas de relacionamento entre parentes são a causa de conflitos gravíssimos e podem destruir qualquer pessoa, inclusive nos fatores profissionais, pessoais e financeiros. Por isso o indivíduo precisa dar atenção a esse fator e tentar de todas as formas manter o equilíbrio em sua casa e seus parentes próximos.

Fatores Crenças

Os Fatores Crenças abrangem as convicções, valores, fé e visão de mundo que orientam nossas decisões e comportamentos. Eles estão profundamente enraizados na dimensão espiritual, moldando nossa percepção de propósito, significado e conexão com algo maior.

Nossas crenças formam a base de nossa identidade e influenciam a maneira como interpretamos o mundo ao nosso redor. Elas afetam nossas escolhas, relações e atitudes em relação a desafios e oportunidades. Um sistema de crenças coerente e bem-definido pode fornecer um senso de direção e propósito, enquanto crenças conflitantes ou limitantes podem causar confusão e desmotivação.

As bases para esse fator são construídas a partir do conhecimento que adquirimos durante a vida. No seio da família, na escola, no trabalho, na igreja e nos livros. E atualmente, nas redes sociais e com os influencers. Todos esses lugares são fontes de conhecimento que formam o caráter e personalidade, mais fundamentais, estruturando o conjunto de crenças, que precisam mais de informação ao longo da vida.

As crenças fazem com que o ser humano estabeleça seus critérios de vida, que vão balizar as decisões a cada momento do dia. As crenças definem o comportamento do indivíduo na sociedade, nos seus relacionamentos e, em grande medida, no relacionamento consigo mesmo, dando a ele justificativas para seus atos e enfrentamento das consequências. Dois elementos destaco como fundamentais nesse fator cotidiano: a espiritualidade e o propósito de vida.

A espiritualidade, que pode ou não estar ligada a uma religião formal, desempenha um papel crucial na busca por propósito e significado na vida. Práticas espirituais, como meditação, oração ou reflexão, podem proporcionar uma sensação de paz interior e conexão com algo maior do que nós mesmos. Essas práticas podem ser particularmente importantes em tempos de crise, oferecendo conforto e orientação.

O indivíduo precisa ter consciência de si, da sua existência e do seu lugar na sociedade. Só que ele só vai ter claridade sobre esse estado mental de existência se suas crenças estiverem alinhadas com o que ele pratica com sua família, seu trabalho, seu dinheiro e com as pessoas a sua volta. Ainda terá que lidar com as diferenças de crenças das outras pessoas, começando com a própria família. Não é raro encontrar pessoas com conflitos familiares terríveis devido às crenças que cada um na casa possui e defende principalmente crenças religiosas e políticas.

A importância das crenças é enorme. Elas podem trazer soluções, mas também problemas sérios de convivência. Numa sociedade plural de culturas religiosas e políticas, considera até muito comum as desavenças familiares e em ambientes de trabalho pelo fato das pessoas defenderem e agir conforme suas crenças. Dessa forma, é necessário sim ter princípios e crenças fortes e ter plena certeza que a defesa deles irá gerar atitudes, e as atitudes geram respostas e consequências. Nessa seara, é sim possível identificar crenças positivas e negativas e é preciso saber elas irão guiar seus passos e comportamentos. Comportamento é ação e, consequentemente, haverá reações.

Conclusão

Os Fatores Cotidianos no modelo Veja Claramente são os alicerces sobre os quais as dimensões humanas se apoiam e interagem. Cada fator, seja ele pessoal, profissional, financeiro, de crenças ou familiar, influencia diretamente o nosso estado emocional, físico, cognitivo, espiritual e social. Manter um equilíbrio saudável entre esses fatores é crucial para o desenvolvimento pessoal e o bem-estar geral. Ao identificar e ajustar esses fatores, podemos cultivar uma vida mais rica, significativa e alinhada com nossos valores e objetivos mais profundos.

Por Rod (Veja Claramente)

Modelo Veja Claramente – Parte 2 – As Dimensões Humanas

anjo segurando cerebro

10 de agosto de 2024 – In: Geral

No artigo anterior introduzimos todo o modelo e agora vamos focar nas Dimensões do Ser Humano. Nos próximos artigos vamos abordar os Fatores Cotidianos e as Ferramentas de Transformação.

No artigo anterior, eu introduzi o que eu chamo de Modelo Veja Claramente. Como já mencionado, o termo “Modelo” refere-se à minha visão particular sobre como eu procuro dar sentido e lógica à minha busca por uma vida melhor, por meio do autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Ao longo da minha vida, estudei diversas doutrinas e ciências e percebi que existem muitos caminhos e conhecimentos, sendo muito fácil se perder ou desistir em meio a tanta informação.

Não que estudar e buscar conhecimento em excesso seja ruim, não é mesmo. Inclusive já ouvi muito que “estudar demais pode deixar uma pessoa maluca”. Bem, sobre isso nem vale a pena discutir, pois considerando as condições de educação e instrução do nosso país e da maioria esmagadora do nosso povo, e considerando as pessoas e locais de onde pude ouvir esse argumento, é melhor não discutir. Não é que o excesso de estudo e informação seja ruim, mas o acúmulo de conhecimento sem um sentido lógico, sem coerência e motivação, isso acaba por confundir o caminhar do indivíduo que está na busca. Por isso é que temos o conceito de trilhas, no que se refere à capacitação, formação e educação, segundo a pedagogia.

Assim, o Modelo Veja Claramente surgiu como uma abstração que fiz ao parar, refletir e organizar meus estudos em prol da minha necessidade de autoconhecimento e desenvolvimento em áreas fundamentais do conhecimento humano. Não se trata apenas de especializar-se em uma profissão e prosperar, mas de desenvolver-se como um ser humano dotado de consciência, vida, saúde e propósito.

Utilizei conceitos de conhecimento em níveis estratégicos, táticos e operacionais para desenhar um paralelo. Em meu raciocínio, para me conhecer e me desenvolver, preciso entender o macro — do que sou feito em uma escala maior, independente do rumo de vida que sigo. Por isso, decidi que, em nível estratégico, deveria explorar as cinco dimensões humanas: Física, Emocional, Cognitiva, Espiritual e Social. No nível tático, preciso conhecer os Fatores Cotidianos: Pessoais, Familiares, Financeiros, Profissionais e Crenças e, no nível operacional, as Ferramentas de Transformação: Filosofia, Psicologia, Religião/Espiritualidade e Estoicismo.

Para mim, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal ocorrem através do estudo de várias disciplinas e saberes, que podem ser encaixados nessa estrutura. Dessa forma, sei onde buscar o conhecimento necessário para entender quem sou, o que pode me afetar como pessoa e quais ferramentas posso utilizar para superar obstáculos.

Neste artigo, abordaremos apenas o nível estratégico do modelo, discorrendo sobre os conceitos e a importância das dimensões. Os outros níveis serão abordados em artigos futuros.

As cinco dimensões das quais uma pessoa é constituída responde à seguinte lógica: Eu, uma vez que tenho consciência que existo e estou vivo no mundo e em sociedade tenho que entender que tenho um corpo físico, perceptível; e nele há um cérebro dotado de capacidades cognitivas fundamentais para perceber a vida real. Dentre as capacidades e habilidades, estão meus sentimentos e emoções que me fazem compreender o que pode ser visto e sentido, me dando a capacidade de expressá-los e, assim, me diferenciar como humano. Ao final, e com tudo isso, tenho a plena sensação da existência de algo maior e divino a perseguir o entendimento.

A Dimensão Física

Esta é a dimensão elementar da existência do ser humano no planeta. É a mais tangível de todas e refere-se ao estado do corpo e à saúde geral. É por meio do corpo que experimentamos sensações e sentidos, que integram as características das outras dimensões. O corpo é a estrutura que abriga habilidades que determinam força, potência e equilíbrio, essenciais para uma vida plena e produtiva.

Desde a antiguidade, filósofos como Hipócrates destacavam a importância de um corpo saudável como base para uma vida plena.Que teu remédio seja teu alimento, e que teu alimento seja teu remédio“, dizia Hipócrates, sublinhando a interdependência entre saúde e bem-estar. Na era contemporânea, a medicina moderna e a nutrição funcional corroboram essas ideias, enfatizando a necessidade de uma dieta equilibrada e exercícios regulares.

Além disso, o advento da psicologia positiva, trouxe à luz a ideia de que o bem-estar físico é indissociável da saúde mental. A prática de atividades físicas é constantemente associada à melhoria do humor e ao combate à depressão e à ansiedade. Contudo, a ênfase exagerada na aparência física, fomentada pelas redes sociais, pode distorcer a percepção de saúde, levando a distúrbios como a dismorfia corporal e o narcisismo. Inclusive, abordo essa visão no artigo Saúde e Bem-estar não são mais suficientes para o desenvolvimento pessoal que pode ser lido no blog.

A dimensão física é a base sobre a qual todas as outras dimensões humanas se sustentam. Sua influência e importância podem ser discutidas em vários aspectos, como por exemplo: o impacto na saúde mental, o desempenho cognitivo, a longevidade e a qualidade de vida.

Há uma forte conexão entre a saúde física e mental. Até podemos citar um ditado muito conhecido que é: corpo são, mente são! Existem estudos bem abrangentes sobre isso. Na verdade há filosofias inteiras, que ensinam a importância do equilíbrio entre os dois, para que se alcance o desempenho, não apenas cognitivo, do intelecto, mas também para que seja possível o prolongamento da vida com qualidade.

Creio que o conhecimento desta dimensão é o mais avançado atualmente, em relação aos demais. A sociedade conseguiu normalizar e tornar comum a cultura de cuidados com o corpo físico. Isso se verifica através da explosão de academias e práticas saudáveis nas quais as pessoas já incorporaram em seus estilos de vida cotidianos. Muitos estão buscando cuidar de seus corpos para atingir beleza física, saúde e qualidade de vida. Esta última ainda é um pouco subjetiva, mas há um consenso comum de que é necessário ter o máximo de cuidado com o corpo, pois sem essa qualidade, é difícil manter o equilíbrio na relação com as outras dimensões.

Investir no conhecimento e na prática do cuidado com a dimensão física é crucial para uma vida equilibrada e satisfatória. Ao cuidar do corpo através de nutrição adequada, exercícios regulares, sono de qualidade e manutenção da saúde geral, criamos uma base sólida para o bem-estar emocional, cognitivo, espiritual e social, pois é a base – repito pois considero de vital compreensão (e não se enganem, há pessoas que não entendem assim, pois acham que o corpo não interfere em habilidades outras). O entendimento e a aplicação dos princípios desta dimensão podem transformar vidas, promovendo não apenas a longevidade, mas também a qualidade de vida.

Dimensão Emocional

As emoções nunca estiveram tão em alta como nos tempos de hoje. Mais que a própria inteligência (cognição), que considero ser a mais importante. Essa dimensão envolve a gestão das emoções, sentimentos, estados afetivos e o desenvolvimento da resiliência. Aristóteles, em sua obra “Ética a Nicômaco”, falava da importância da moderação e do equilíbrio emocional para uma vida virtuosa. Na psicologia moderna, o conceito de inteligência emocional, que se refere à capacidade de reconhecer, compreender e gerir nossas emoções e as dos outros. Ela é essencial para o bem-estar geral e influencia diretamente nossas interações sociais, nossa percepção de nós mesmos e nossa qualidade de vida.

Quero destacar expressões como “gerir nossas emoções e as dos outros”, “essencial para o bem-estar geral” e “qualidade de vida”. Se repararmos bem, vamos perceber o poder que elas expressam. Se eu consigo gerir minhas emoções e dos outros, eu defino o bem-estar geral e determino a qualidade de vida que eu e aos que estão ao meu redor terão. É absurdo raciocinar assim?

No entanto, parece não ser tão fácil assim. Apesar da sociedade ter adquirido maior consciência sobre a importância de um emocional forte e saudável, observamos, sem dificuldade, uma gigantesca quantidade de pessoas doentes emocionalmente. Em consequência do aumento vertiginoso dos transtornos emocionais temos disponíveis muitas terapias, como por exemplo a prática da atenção plena e a terapia cognitivo comportamental (TCC), estratégias estas eficazes para melhorar a saúde emocional.

Entre a importância dessa dimensão e os consequentes transtornos que dela se origina, é fundamental listar algumas das principais características (leia artigo sobre as características dessa dimensão no blog. Leia o artigo: A Dimensão Emocional do ser humano aqui no Blog.

1 – Autoconsciência Emocional:

A capacidade de reconhecer e compreender as próprias emoções é fundamental para o desenvolvimento pessoal e o bem-estar. Essa habilidade, conhecida como autoconsciência emocional, é o primeiro passo para a gestão eficaz das emoções. Segundo Daniel Goleman, em seu influente livro “Inteligência Emocional”, a autoconsciência emocional é uma das habilidades essenciais da inteligência emocional. Goleman argumenta que, ao entendermos nossas emoções, somos capazes de controlá-las e utilizá-las de maneira construtiva, melhorando tanto nossas relações pessoais quanto nossa performance profissional.

2 – Regulação Emocional:

A capacidade de gerenciar e responder às emoções de maneira saudável é fundamental para o bem-estar emocional e o sucesso nas interações pessoais e profissionais. Técnicas de regulação emocional, como respiração profunda, meditação e reestruturação cognitiva, são ferramentas eficazes que ajudam a manter o equilíbrio emocional, mesmo em situações de estresse ou pressão. Essas técnicas não só melhoram o autocontrole, mas também aprimoram a capacidade de tomar decisões equilibradas e resolver conflitos de forma construtiva.

3 – Empatia:

A habilidade de entender e compartilhar os sentimentos dos outros, conhecida como empatia, é crucial para promover conexões sociais e relacionamentos saudáveis. A empatia não apenas fortalece os vínculos interpessoais, mas também cria um ambiente de compreensão e apoio mútuo. Estudos mostram que essa habilidade pode ser desenvolvida através da prática e da reflexão consciente sobre as experiências dos outros, o que permite um aprimoramento contínuo na forma como nos relacionamos com aqueles ao nosso redor. A prática da empatia, portanto, não é apenas um dom inato, mas uma competência que pode ser cultivada e aprimorada ao longo do tempo, contribuindo significativamente para o bem-estar emocional e social.

4 – Motivação:

A dimensão emocional desempenha um papel crucial na nossa motivação interna. Essa motivação pode ser dividida em dois tipos principais: intrínseca e extrínseca. A motivação intrínseca, que é impulsionada por interesses e valores pessoais, tende a ser mais sustentável a longo prazo, pois está enraizada em nossos desejos e objetivos mais profundos. Em contraste, a motivação extrínseca, que é impulsionada por recompensas externas, pode ser menos duradoura. Portanto, entender e nutrir nossa motivação intrínseca é fundamental para o desenvolvimento pessoal e para a busca de uma vida mais significativa e alinhada com nossos valores essenciais.

5 – Habilidades Sociais:

As habilidades sociais envolvem a capacidade de interagir eficazmente com os outros, fundamentais para construir e manter relacionamentos positivos. Essas habilidades incluem comunicação eficaz, resolução de conflitos e cooperação, essenciais para criar ambientes de convivência harmoniosos e produtivos. Cultivar essas habilidades é vital para o sucesso pessoal e profissional, permitindo que os indivíduos se conectem de forma significativa com os outros e colaborem para alcançar objetivos comuns.

Pesquisei e achei muito interessante as definições e observações sobre essas cinco características. Trouxe-as para este artigo para refletirmos sobre a relação existente entre elas. Das duas primeiras já aprendemos sobre ter consciência das emoções e da necessidade de regular essas mesmas emoções, indicando que não existe estado emocional estável. Logo depois, conhecemos a empatia e a motivação, características que eu também considero que exista uma ligação, pois para entender e compartilhar sentimentos com outras pessoas, pelo que penso, tem que ser possível uma boa dose de motivação para a criação de conexões e relacionamentos.

Por último, a característica da dimensão emocional que mais vejo sendo praticada atualmente, a habilidade social. Na era da informação livre, as habilidades de comunicação, resolução de conflitos e cooperação são cada vez mais fundamentais. Em toda organização, por todos os profissionais e educadores, se percebe o quão pode ser determinante as habilidades de viver em sociedade. E se o indivíduo conseguir equilibrar as outras características, não há dúvidas que suas habilidades serão superiores e ele, certamente, terá destaque. Inclusive, fazendo com que ele tenha que ter, cada vez mais, consciência e regulação emocional.

Dimensão Cognitiva

A dimensão cognitiva abrange nossas capacidades intelectuais, incluindo a memória, a criatividade e a capacidade de resolução de problemas. É através da cognição que os seres humanos interpretam o mundo ao seu redor, desenvolvem o pensamento crítico e criam estratégias para enfrentar desafios. Essa dimensão é essencial para a sobrevivência e o sucesso humano, porque é através dela que os indivíduos podem processar informações complexas, resolver problemas e tomar decisões informadas.

Aqui o foco envolve as capacidades mentais que permitem ao ser humano perceber, processar, e interpretar informações do mundo ao seu redor. É preciso perceber e diferenciar as características cognitivas das emocionais. Muitas vezes se confundem uma com a outra, mas se mantém a relação de dependência e colaboração entre essas duas dimensões.

Uma das principais características dessa dimensão é a percepção e processamento de informações, onde o indivíduo organiza e faz sentido dos estímulos sensoriais recebidos, sendo isso fundamental para a tomada de decisões e ações conscientes. Outro aspecto crucial é a memória, que serve como o alicerce do aprendizado, permitindo que experiências passadas sejam armazenadas e acessadas para influenciar comportamentos e decisões futuras. Sem uma memória eficaz, a capacidade de aprendizado seria severamente limitada.

A capacidade de aprendizado e adaptação é outra característica central da cognição. Esse processo contínuo permite que as pessoas adquiram novas habilidades e conhecimentos, ajustando-se às mudanças em seu ambiente. Isso não apenas contribui para o desenvolvimento pessoal, mas também é essencial para a evolução profissional em um mundo em constante transformação.

A resolução de problemas reflete a capacidade cognitiva de identificar desafios, gerar soluções e tomar decisões informadas. Essa habilidade é vital em todos os aspectos da vida, desde lidar com problemas diários até enfrentar questões complexas em ambientes profissionais.

Por fim, a criatividade e inovação são manifestações da cognição que permitem ao indivíduo gerar novas ideias e abordagens, sendo essas habilidades particularmente valorizadas em campos que exigem inovação constante, como ciência, tecnologia e artes.

A dimensão cognitiva, portanto, desempenha um papel central na forma como os seres humanos interagem com o mundo e se desenvolvem. Suas características não só suportam a sobrevivência, mas também o sucesso pessoal e social, influenciando o bem-estar emocional e a saúde mental. Manter um cérebro ativo e saudável, por meio de práticas como leitura e meditação, pode fortalecer essas capacidades ao longo da vida, promovendo uma maior realização e adaptabilidade.

Dimensão Espiritual

Particularmente, esta é a dimensão em que invisto mais tempo de estudo e análise. Com certeza é algo particular, com origem nas minhas experiências de vida. Para mim, e tenho certeza que muitos dos leitores vão se identificar, é por estudar sobre religião e espiritualidade que as demais dimensões começam a fazer sentido lógico e racional. Escrevi um artigo bem sucinto sobre as características e o leitor pode ler aqui. A dimensão espiritual é talvez a mais subjetiva e complexa de todas. Envolve a busca por um propósito maior, a conexão com algo transcendente, não sendo essa busca algo de cunho obrigatório, mas sim natural e existencial.

Desde a filosofia oriental, com figuras como Siddhartha Gautama (Buda), até os ensinamentos dos místicos cristãos como São João da Cruz, a espiritualidade tem sido uma busca central na vida humana. Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, argumenta em seu livro “Em Busca de Sentido” que a busca por significado é a principal motivação do ser humano. De alguma forma, e inconscientemente, mesmo com as outras dimensões em certo equilíbrio, o indivíduo ainda se olha, olha acima e constata que ainda falta alguma coisa que possa lhe completar.

Na psicologia moderna, Carl Jung trouxe à tona a importância do inconsciente coletivo e dos arquétipos, elementos fundamentais na nossa busca espiritual. Em tempos de crise existencial e desorientação, a espiritualidade pode fornecer um sentido de propósito e direção, aspectos críticos para o bem-estar global.

Sentido e propósito, certo? Perceba que foi só aqui, nesta dimensão, que aparece esses dois termos como unidades maiores, que não são consequência dos cuidados com o corpo, com a mente, nem com as emoções e nem com nossa cognição. Isso mostra que não conseguimos minimizar a importância da religião e espiritualidade da nossa existência. Estamos falando agora de sentido de viver. Não é sobre curar um sentimento ou emoção com um remédio comprado na farmácia ou que se trata num consultório.

De forma ampla, podemos reconhecer a existência de, pelo menos, umas quinze religiões/doutrinas conhecidas mundialmente, sem contar as sub denominações e vertentes. Essa existência e prática, por parte dos fiéis, vem de históricos quase cinco mil anos atrás. O leitor, concordando ou não, deve reconhecer que muitos dos conceitos de ética, valores, princípios humanitários e senso de justiça que a humanidade conhece e pratica, advém da cultura religiosa e espiritual. Eis algumas características:

  • Busca por Significado e Propósito:
  • Conexão com Algo Maior:
  • Experiência do Sagrado:
  • Religião e Espiritualidade:

Essas características são alvos de estudo de quase todos os filósofos e pensadores conhecidos. Em todas as épocas existiram quem se debruçasse nas mais diversas escrituras e mistérios relacionados aos céus, astros, existência, etc. Sociedades e povos, em todos os quinhões do planeta deixaram seus registros acerca da mesma vontade inata de significado e propósito. Caro leitor, também pode ler outro artigo que escrevi sobre as diferenças e semelhanças entre religião e espiritualidade aqui no blog.

Em resumo, a dimensão espiritual exerce uma influência profunda e positiva no bem-estar emocional e psicológico dos indivíduos, proporcionando uma base sólida para enfrentar estresses e adversidades com maior resiliência e otimismo. A busca por um propósito maior e a conexão com algo transcendente ajudam a manter o equilíbrio emocional, promovendo paz interior e satisfação pessoal. Além disso, explorar a dimensão espiritual incentiva o crescimento pessoal e a auto-reflexão, levando a uma maior compreensão de si mesmo e à realização de mudanças positivas na vida. A participação em práticas espirituais ou religiosas também cria um forte senso de pertencimento e comunidade, oferecendo suporte social e um sentimento de conexão com os outros, essencial para o fortalecimento de laços e apoio mútuo.

As crenças espirituais moldam valores e ética pessoal, orientando decisões e comportamentos de maneira alinhada com um propósito maior. Isso influencia como os indivíduos enfrentam dilemas morais e tomam decisões cotidianas. Além disso, experiências espirituais profundas, como o contato com o sagrado, podem provocar transformações significativas na percepção da vida, alterando prioridades e proporcionando uma visão mais enriquecedora e satisfatória.

Dimensão Social

A dimensão social envolve nossas interações e relacionamentos com os outros. Aristóteles afirmou que “o homem é um animal social”, indicando a necessidade intrínseca de pertencer a uma comunidade. Na modernidade, temos vários sociólogos, psicólogos e educadores que evidenciam a importância das relações sociais para a saúde mental e emocional. No meu ver, essa sim, é uma dimensão onde suas características são produtos diretos e indiretos das demais dimensões. Tudo o que o indivíduo pensa, sente, acredita, fala, pratica, mostra e expressa é para a sociedade, é para alguém de fora de si ou da sua própria “casa” ou “eu”.

O social se refere às nossas relações e interações com os outros. Esta dimensão abrange as relações com a família, amigos, colegas de trabalho e a comunidade em geral. É onde estamos vulneráveis aos relacionamentos com as mesmas dimensões dos outros indivíduos. As diferenças de conceitos e princípios vão se chocar mostrando as muitas personalidades das muitas pessoas. É o que eu gosto de chamar de: viver a vida de verdade, sair de casa, conversar e gerenciar conflitos o tempo todo. Significa sofrer as consequências das relações sociais, desde de forma exacerbadamente resposta quanto exageradamente isolada, com vivência social quase nula.

O isolamento social, exacerbado pela era digital, tem mostrado efeitos adversos significativos. Pesquisas indicam que a solidão pode ser tão prejudicial quanto o tabagismo, aumentando o risco de mortalidade prematura. Fortalecer as conexões sociais e desenvolver habilidades interpessoais são fundamentais para uma vida equilibrada e satisfatória.

De forma resumida, as relações sociais são fundamentais para o bem-estar e a satisfação pessoal, proporcionando suporte emocional, sentido de pertencimento e oportunidades para crescimento pessoal e profissional.

Conclusão

O Modelo Veja Claramente propõe uma abordagem holística para o autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, reconhecendo a interdependência das dimensões física, emocional, cognitiva, espiritual e social. Cada uma dessas dimensões desempenha um papel essencial na construção de uma vida equilibrada e significativa. Ao compreender e nutrir essas áreas, podemos cultivar um bem-estar integral, que não apenas nos permite alcançar nossos objetivos, mas também nos conecta a um propósito maior.

Este modelo nos lembra que o caminho para uma vida plena não é linear; ele exige a integração de diversas disciplinas e a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos. À medida que avançamos em nossa jornada de autodescoberta, é fundamental refletir continuamente sobre nossas escolhas, ajustando nosso curso para garantir que cada dimensão seja atendida e fortalecida.

Nos próximos artigos, exploraremos os níveis tático e operacional do modelo, aprofundando-nos nos Fatores Cotidianos e nas Ferramentas de Transformação que podem nos guiar nessa jornada. Ao seguir este modelo, o objetivo final é ver claramente — tanto a nós mesmos quanto o mundo ao nosso redor — e, assim, viver com mais intencionalidade, equilíbrio e satisfação.

Por Rod (Veja Claramente)

Modelo Veja Claramente Parte 1: O que é modelo, para que serve e por que ele

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O Modelo é uma abstração de muitos anos estudando todo o tipo de conhecimento. Mesmo com tanta informação, não foi possível ter uma vida mais plena. Até que o sofrimento se tornou muito difícil de suportar.

O modelo ‘Veja Claramente’ é uma abordagem abrangente sobre desenvolvimento pessoal que criei, baseada em meus estudos e observações sobre minha própria vida e os eventos que nela ocorreram ao longo do tempo. Até há uns 10 anos atrás, eu ainda não havia parado para analisar minha vida de uma forma externa, observando todos os acontecimentos. Minhas ações, motivações, reações e consequências nunca tinham sido observadas de maneira integrada, como uma cadeia lógica de acontecimentos. Eu percebia tudo apenas com a visão do problema tratado no momento, e só isso. Problema após problema, eu resolvia ou tentava resolver tudo de forma isolada, com a informação que eu tinha no momento e pronto. Entre um problema e outro, só havia tempo para causar novos problemas ou piorar os já existentes.

Até aí, minha vida não foi diferente da vida da maioria das pessoas. A vida é um ciclo interminável de resolver problemas, não é mesmo? O porquê de tudo se perdeu em algum lugar da estrada ou em algum filme bacana, e vida que segue. Só que chegou um momento em que os problemas ficaram repetitivos demais. As pegadinhas da vida eram as mesmas e eu caía em todas, sem exceção. Por mais que eu estudasse e adquirisse instrução, nada mudava. Aprendia muitas coisas, mas a maneira de lidar com a vida e os problemas era a mesma. Chegou ao ponto de eu me olhar no espelho e fazer a triste pergunta: Qual é o seu problema?

Nesse momento, a dor interior é tão grande, pois pode-se encontrar desculpas e argumentos para qualquer acusação vinda de fora e feita por outras pessoas, mas quando é você mesmo que se acusa e aponta o dedo, não há o que esconder ou mentir. Você é o único culpado de fato por sua teimosia e até burrice mesmo. Foi o que aconteceu comigo e, então, parei para analisar as coisas direito.

Eu sempre estudei de tudo, era bom na escola e cheguei a transformar minha vida, até certo ponto, com meus estudos, mas não foi o suficiente. Estudei muitas coisas úteis, mas também muitas coisas que eu achava inúteis. Na verdade, percebi que o estudo das coisas deve ser focado e ter um propósito. Eu não fazia isso, só queria saber e conhecer o necessário para resolver um problema específico. Passar em provas, conseguir títulos, melhorar emprego e renda. Só serviu para isso. Estudar e aprender apenas para resolver pendências pontuais e urgentes não me permitiu usar o conhecimento para progredir e enxergar melhor a vida e o meu lugar nela. Só serviu para me tornar uma esponja de informação, porém, sem nenhum resultado prático transformador de vida.

Foi quando percebi, enquanto fazia uma análise da vida, sobre o que eu sabia, sobre como eu aprendi e sobre onde eu usava o conhecimento, que entendi que a instrução que eu havia adquirido, até então, estava sendo usada de forma errada, de forma isolada do mundo, um mundo em que nada existe de forma isolada; tudo está relacionado de muitas maneiras; todo tipo de conhecimento se complementa e nenhuma das ciências ou saberes são excludentes entre si.

Percebi claramente que não existe conhecimento inútil, existe sim, aplicação inútil de conhecimento. Saberes naturais, sociais, formais; todo o conhecimento aplicado, saberes tradicionais, espirituais, religiosos e todo o conhecimento gerado desses são conhecimentos que servem para que a humanidade seja mais do que foi antes deles.

Ficou evidente também que há lógica de uso e utilidade em todo o conhecimento, e essa lógica aponta para o indivíduo detentor do conhecimento. Para tentar explicar isso, aponto o fato de que, atualmente, ninguém nega o avanço das ciências e dos saberes em todas as áreas da vida e das coisas do mundo. No entanto, parece que a humanidade ou sociedade não apresenta sabedoria a ponto de poder apreciar uma vida mais plena. Ou seja, a inteligência social e emocional geral parece não acompanhar a proporção de informação e conhecimento disponível. Eu só consigo pensar que o problema esteja no uso inadequado que o indivíduo faz do conhecimento que adquire.

Dessa forma, concluo que já existe disponível no mundo todo o conhecimento necessário para que o indivíduo possa se tornar mais do que um mero resolvedor de problemas pontuais e corriqueiros. Não que não seja necessário resolver esses problemas, mas é que a vida do indivíduo deve ser maior que isso. Sua vida deve ser mais do que saber abrir uma garrafa da maneira correta, saber ligar o carro do jeito certo, ou saber 10 formas de agradar as pessoas.

Uma vez que entendi isso, reformulei tudo o que já tinha estudado anteriormente. Juntei matérias de escola, de cursos preparatórios, faculdades, especializações, livros, revistas, filmes, séries… até mesmo muita sabedoria popular. Tentei fazer um apanhado sobre tudo que já tive acesso e identifiquei o que eu, como indivíduo, poderia fazer para dar um maior sentido lógico à minha vida. Usei toda minha referência possível de conhecimento. Assim, cheguei no modelo que chamei de ‘Veja Claramente’, pois foi como se uma voz me sussurrasse ao ouvido exatamente estas palavras: Todo ser humano é constituído de cinco dimensões maiores, cinco fatores cotidianos e quatro são as ferramentas de transformação que ele pode utilizar para mudar sua existência.

As dimensões são: Física, Espiritual, Cognitiva, Emocional e Social. Dependendo da fonte onde se busca, pode-se encontrar até mais de cinco dimensões ou até menos. No entanto, identifiquei que diferentes nomenclaturas tratam dos mesmos domínios das dimensões. Ter aprendido sobre as dimensões significa que o indivíduo identificou suas colunas bases e os alicerces da sua existência, e o que ele deve perceber e buscar equilíbrio. Essas dimensões não são separadas, mas influenciam e são influenciadas umas pelas outras durante a vida toda. Ignorar uma em detrimento de outra não será boa coisa. Desde a saúde física até a existência em comunidade são regidos por essas dimensões.

Os fatores cotidianos são aspectos da vida diária que podem influenciar o dia a dia do indivíduo de forma a afetar diretamente suas decisões, influenciando ações e reações diárias cujas consequências podem ser determinantes, tanto de forma negativa quanto de forma positiva. Eles são cinco fatores: Pessoais, Profissionais, Familiares, Financeiros e de Crenças. Se os fatores não forem bem trabalhados e evoluídos, pode ter certeza que as dimensões ficarão desequilibradas, trazendo sofrimento e instabilidades. Questões pessoais, relações com a família, conflitos de trabalho e entendimento sobre dinheiro são características a serem trabalhadas nos fatores do cotidiano.

Por fim, temos o que eu chamo de ferramentas de transformação. São elas a filosofia, a psicologia, a religião/espiritualidade e o estoicismo. As ferramentas são o conjunto de conhecimentos e saberes, já disponíveis no mundo, de forma ampla e gratuita. Não se tratam de coisas novas, e sim, de conhecimentos milenares e provados ao longo dos séculos. Com essas ferramentas, o indivíduo conhecerá os princípios fundamentais da existência, saberá tudo sobre o comportamento humano, suas causas e efeitos, poderá encontrar respostas e até propósito, enquanto aprende sobre virtudes e comportamentos que, com certeza, mudarão sua perspectiva de vida. E certamente viverá melhor.

Este é o modelo que denominei ‘Veja Claramente’. Significa que se o indivíduo perceber que estudar e conhecer bem as ferramentas de transformação, aprenderá sobremaneira sobre o que constitui seu ser. Ou seja, saberá que sua existência é o domínio e equilíbrio das suas dimensões. Mantendo-as equilibradas, terá condições plenas de determinar como trabalhar e agir com os fatores cotidianos e, com isso, irá diminuir muito a quantidade e a complexidade de seus problemas. Consequentemente, verá claramente seus obstáculos, irá dimensioná-los melhor e terá mais subsídios para enfrentá-los.

O modelo ‘Veja Claramente’ é um modelo de estudo proposto para todos que querem focar em uma trilha de conhecimentos a serem adquiridos com o objetivo principal de buscar o autoconhecimento e, a partir daí, buscar o desenvolvimento pessoal, de forma cíclica e contínua. O modelo propõe utilizar o conhecimento milenar já disponível para atingir os objetivos mais rapidamente, pois já se identifica nele – o modelo, uma lógica de uso útil do conhecimento focado no indivíduo. Uma vez que o indivíduo adquire o conhecimento, ele adquire também as habilidades para mudar sua vida e sua história.

Em breve, em outros artigos, vou detalhar mais cada componente do modelo, indicando o propósito proposto, que é servir de uma espécie de guia, para que o indivíduo não se perca em uma vasta imensidão de conhecimentos e ciências, o que pode levar ao cansaço na busca por respostas e por uma vida melhor.

Por Rod (Veja Claramente)

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