O que é estoicismo e por que ele voltou à moda na saúde mental?
O estoicismo é uma filosofia desenvolvida na Grécia Antiga e consolidada em Roma por pensadores como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio. Seus princípios giram em torno da ideia de que devemos concentrar nossa energia apenas no que está sob nosso controle, cultivando a virtude, a razão e a resiliência emocional.
Nos últimos anos, o estoicismo experimentou um renascimento impressionante. Livros, cursos e perfis de redes sociais dedicados ao tema cresceram exponencialmente. Ademais, personalidades influentes como Bill Gates e Jeff Bezos declararam interesse por seus ensinamentos. Mas, além da moda intelectual, o estoicismo tem encontrado um espaço relevante em um campo inesperado: a psicoterapia moderna.
Estoicismo e Terapia Cognitivo-Comportamental: uma aliança poderosa
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), uma das abordagens mais eficazes da psicologia contemporânea, possui raízes profundas no estoicismo. Aaron T. Beck, um dos criadores da TCC, já reconheceu a influência das ideias estoicas, especialmente as de Epicteto, sobre sua metodologia.
A filosofia estoica ensina que “não são as coisas em si que nos perturbam, mas a opinião que temos sobre elas“. Essa afirmação está diretamente alinhada ao princípio da TCC de que nossos pensamentos moldam nossas emoções e comportamentos.
Na prática, psicólogos vêm utilizando os princípios estoicos para ajudar pacientes a lidar com ansiedade, depressão, estresse e frustrações. Ao focar na aceitação da realidade e no controle das reações emocionais, os indivíduos aprendem a desenvolver um estado mental mais equilibrado e resiliente.

Pesquisas comprovam os benefícios do estoicismo para a saúde mental
Um estudo recente conduzido por Alexander MacLellan, da Universidade de Bath, analisou o impacto de práticas estoicas em estudantes de medicina. Os resultados foram surpreendentes: houve uma redução significativa de pensamentos negativos, aumento da empatia e melhora no bem-estar emocional.
Outro achado relevante foi que a repetição de frases e reflexões estoicas, como os chamados “exercícios espirituais” — semelhante à meditação —, teve efeito calmante e organizador no sistema emocional dos participantes. Essa abordagem prática tem sido incorporada em sessões terapêuticas em vários países, inclusive no Brasil.
Estoicismo como ferramenta de autoconhecimento e regulação emocional
Além dos consultórios, o estoicismo tem sido amplamente utilizado em programas de coaching, grupos de apoio e treinamentos corporativos. Isso porque seus princípios são altamente adaptáveis a diferentes contextos:
- Distinguir o que está sob controle do que não está: uma técnica que reduz o sofrimento desnecessário e melhora o foco;
- Praticar a aceitação racional: que contribui para a diminuição da ansiedade e do perfeccionismo;
- Cultivar a virtude e a autodisciplina: elementos que fortalecem a autoestima e a clareza de propósito.
Muitos terapeutas também relatam que o uso de textos estoicos — como o Manual de Epicteto ou as Meditações de Marco Aurélio — como leitura complementar ajuda os pacientes a encontrar novas perspectivas diante de seus desafios.
Atenção aos riscos: nem todo estoicismo é terapêutico
Apesar do entusiasmo, especialistas alertam que o estoicismo pode ser mal interpretado. A popularização da filosofia em redes sociais tem gerado distorções, reduzindo o estoicismo a frases motivacionais vazias, como “engula o choro” ou “seja forte sempre”.
Essa abordagem superficial pode ser prejudicial, especialmente quando usada como desculpa para reprimir emoções ou evitar lidar com traumas. A verdadeira prática estoica, ao contrário, exige reflexão, humildade e comprometimento ético com o bem comum.
Por isso, terapeutas que adotam o estoicismo como ferramenta de trabalho enfatizam a necessidade de integrar seus ensinamentos de forma crítica, personalizada e ética — algo que deve ser orientado por profissionais capacitados.

Conclusão: estoicismo como aliada da psicologia contemporânea
O estoicismo deixou de ser apenas uma curiosidade filosófica e passou a ocupar um lugar legítimo na psicologia moderna. Isso porque seu foco na racionalidade, no autocontrole e na serenidade oferece recursos valiosos para lidar com as pressões do mundo atual.
Quando bem aplicado, o estoicismo pode ajudar a reduzir sofrimento emocional, fortalecer a resiliência e ampliar o autoconhecimento. Ele, no entanto, não substitui a terapia, mas pode potencializar seus efeitos — especialmente quando usado com responsabilidade e orientação profissional.
A filosofia de Epicteto e Marco Aurélio, longe de pertencer ao passado, mostra-se mais atual do que nunca, convidando-nos a uma vida com mais propósito, equilíbrio e liberdade interior.
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